Com inteligência picante, Woody Allen prova que amadureceu com saúde

Meu trabalho final da matéria Jornalismo Cultural foi sobre o filme “Vicky Cristina Barcelona”. A quem interessar possa, segue a versão resumida. 🙂

Ansioso, Woody Allen trata de explicar bem rápido ao expectador sobre o que é seu filme. Em “Vicky Cristina Barcelona” não é diferente. Por meio de um narrador, o cineasta nos apresenta duas jovens americanas – a conservadora Vicky (Rebecca Hall) e a aventureira Cristina (Scarlett Johansson). As amigas, que tem opiniões totalmente diferentes sobre o amor, viajam para Barcelona. A fim, simplesmente, de passar as férias de verão por lá, elas acabam se envolvendo em confusões amorosas com um pintor libertário, sedutor e extravagante (Javier Bardem) e sua insana e igualmente libertária ex-esposa (Penélope Cruz).

Com exceção da novata Rebecca Hall, seu elenco é muito conhecido e premiado mundo afora e Barcelona é um cenário colorido e caliente que ainda não havia sido explorado por Allen. O diretor tem em suas mãos armas pesadas, mas acerta o público alvo.

O elenco, em especial as mulheres, tem muito a oferecer. Entretanto, não há espaço para improviso. O que é bom. O texto de Woody Allen é recheado de piadas inteligentes e frases de efeito intrigantes e que fazem pensar.

Todas as dúvidas sobre o que é o amor e como ele é relativo estão no filme. E são apresentadas logo nos créditos, pela música “Barcelona”, de Giulia y Los Tellarini, que, com violões despretensiosos, nos pergunta “Por que tanto se perde e tanto se busca sem se encontrar?”. E você vai sair do cinema cantarolando esses versos sem perceber.

Também é bom ver que a atual favorita do diretor cresceu e apareceu ainda mais. Em “Scoop”, de 2006 e também de Woody Allen, Scarlett Johansson não convencia. O papel pedia uma pessoa mais jovem e ela passou por momentos meio embaraçosos, nem ela parecia acreditar no que estava falando. Já em “Vicky Cristina Barcelona” o papel foi feito para a moça, que se sente à vontade e, portanto, dá um show de atuação. Precisa, detalhando os pensamentos de sua personagem, mas sem exageros.

E o humor cínico não aparece apenas nas falas. A história intensa mostra muito da arquitetura de Barcelona, mas não deixa tempo de criticar a cidade. Woody Allen limita-se a alguns pontos turísticos, mas insere críticas boas e ruins, como a exaltação ao clima das rodas de violão e o fato de que ninguém se preocupa muito em trabalhar.

“Vicky Cristina Barcelona” já é o recorde de bilheteria do diretor por aqui. Além de ter um belo elenco de estrelas, é um filme de verão charmoso. Todo mundo sai do cinema comentando algo, inegável. Não é um filme sobre sexo com libertinagem solta e explícita, tampouco uma cópia de Pedro Almodóvar – a belíssima fotografia quente e colorida de Javier Aguirresabore dá mesmo essa impressão. Mas também não é um romance tão simplista como o de “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977), que, com humor, reduzia as absurdas neuroses dos relacionamentos amorosos a piadas – excelentes, mas piadas. Há humor, claro. Mas ele é mais comedido, adulto e, muitas vezes, provocador. “Vicky Cristina Barcelona” prova que até Woody Allen pode amadurecer ainda mais. E com saúde.

Para ouvir depois de ler: Barcelona – Giulia y Los Tellarini

6 comentários em “Com inteligência picante, Woody Allen prova que amadureceu com saúde

  1. Ainda não assisti ao filme e o seu resumo me deu mais vontade de assiti-lo.Espero que a atuação da Scarlett esteja tão “vazia” como em Encontros e Desencontros.Eu gosto do Woody Allen mas prefiro os roteiros do Korine.

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