Eu sei, eu sei. “Jagged Little Pill”, o clássico álbum lançado por Alanis Morissette em 1995, é intocável. Vendeu milhões de cópias, ganhou dezenas de prêmios, virou musical na Broadway e teve cinco hits no topo das paradas – quase metade do disco.
Mas a carreira da Alanis vai muito bem, obrigado, e bem além de “You Oughta Know”. Recentemente lançou inclusive um novo disco, “Such Pretty Forks in the Road”, que tem um tom mais familiar, percorrendo um caminho novo na imagem de jovem rebelde que muitos têm dela – o título é literalmente sobre isso, as belas bifurcações (e possibilidades) de uma estrada. Durante a carreira, criou muita música boa e aqui listei algumas favoritas que, se você não conhece ou tinha esquecido, acho que vale revisitar.
Thank U
A tão esperada volta de Alanis depois do sucesso de “Jagged Little Pill” – JLP, para os íntimos – foi com este single. Uma balada sobre ansiedade e outros transtornos e como saber conviver com eles. Desde então, ela têm o hábito de fechar seus shows com a música – além do agradecimento literal, a balada resume o que as letras de Alanis sempre falam, da capacidade de observar os altos e baixos da sua vida com serenidade, convidando todas as emoções a passarem por você.
Unprodigal Daughter
Nem sempre o filho pródigo à casa torna. Na verdade, pra muita gente, sair da casa dos pais é um alívio. Essa música é sobre os desencantos que nos afastam deles e sobre como os “nãos” que recebemos moldam nossa personalidade. “Se eu tivesse ficado mais um pouco, com certeza eu teria implodido”.
Uninvited
Como parte da trilha-sonora do filme “Cidade dos Anjos” (City of Angels, 1998) – remake do já clássico “Asas Do Desejo” (Der Himmel über Berlin, 1987) – Alanis cria uma letra sobre os personagens: um anjo que se apaixona tão fortemente por uma mulher que abre mão de sua imortalidade e se torna humano por ela – e todas as condições e expectativas deste trato de entrega romântica. “Você fala do meu amor como se você tivesse experimentado amor como o meu antes”, ela canta, como uma solista de tragédia grega. Antes dos violinos se misturarem com as guitarras, ela finaliza: “não é que você não valha a pena, mas eu preciso de um momento para pensar”.
Orchid
Essa música só saiu na edição deluxe do álbum ao qual pertence (“Flavors of Entanglement”, 2008) mas é uma das minhas favoritas. Uma balada acústica com uma camada eletrônica do Guy Sigsworth (produtor de vários clássicos da Björk) em que Alanis conta como tem sido “tratada como uma rosa sendo uma orquídea”.
Woman Down
Essa música de 2012 é tão poderosa que substituiu “All I Really Want” (música de abertura do JLP) como abertura dos shows da Alanis. O hino conta como, a cada nova geração, as mulheres aumentam sua voz e poder – e você já vê isso se comparar sua mãe, sua irmã e sua filha. Ela convoca uma briga alertando que, para acabar com o patriarcado, vamos ter que sujar as mãos e começar algumas coisas do zero. Quem vai limpar esse matadouro depois?
Surrendering
No registro da turnê do álbum “Under Rug Swept” (2002), vemos alguns vídeos do dia que Alanis escreveu essa música. É curioso ver que ela chora revivendo a história da canção mas, ao invés de uma balada triste, temos uma música animada.
Celebrity
Uma crônica sobre a obsessão ocidental com a fama – e o preço dessa busca. Em uma entrevista para Oprah (legendada aqui), ela falou sobre isso: “Em algum nível eu acho que há algum trauma em querer ser famoso, buscar isso. Eu não acho que acontece por acaso para ninguém, francamente. E aí a pessoa traumatizada, neste caso eu, se traumatiza pela coisa que eu achei que seria a cura, o bálsamo. Eu achava que tudo seria resolvido com a fama. Achava que quando eu fosse famosa eu ia ser menos solitária, eu ia ser compreendida, eu ia ser amada e esse amor ia curar as partes quebradas de mim”.
No Pressure Over Cappuccino
Alanis Morissette tem um irmão gêmeo gay e essa música é para ele, é como se os dois estivessem tomando um café, falando sobre a vida. Ela o compara com Jesus, Kennedy e Noé, personagens controversos em suas épocas, com desafios impostos em suas vidas. Escrevi sobre essa música num outro post. Ela foi criada e começou a ser tocada durante a turnê do JLP, nunca entrou oficialmente em nenhum álbum, mas pelo menos entrou no MTV Unplugged.
Se eu tiver conseguido te convencer, montei uma playslit no Spotify com todas essas músicas acima e mais algumas outras favoritas, incluindo os covers famosos de Alanis: “Crazy” (cover do clássico do Seal), “King of Pain” (a linda versão ao vivo que ela fez para o hit do The Police no MTV Unplugged) e “Let’s Do It (Let’s Fall in Love)“, da trilha-sonora do filme “De-Lovely” (2004), que conta a vida de Cole Porter.