Depois de adiar em muitos meses uma viagem que faria pra Paris em abril de 2015, acabei fechando tudo para o começo de dezembro. Na hora de comprar as passagens, fui checar se Madonna estaria por perto com sua atual turnê. Quando pisquei, estava eu lá no que eles chama de “fosso” (o equivalente deles à nossa área VIP), vendo mais uma vez de perto um show dela.
O primeiro que vi foi o “Sticky and Sweet”, do disco “Hard Candy”. Lembro bem do frisson e da comoção – que envolveu muitos problemas para comprar ingresso e uma viagem a São Paulo, pois não morava aqui ainda. A segunda vez foi a “MDNA Tour”, do álbum de mesmo nome. Eu já morava aqui e a experiência foi muito superior: além de estar bem mais perto do palco, estava acompanhado da minha irmã (outra super fã de Madonna) e tínhamos feito um combinado de não ver vídeo e nem ler notícias sobre o show. Assim, praticamente tudo que vimos no palco foi surpresa. O impacto é ainda maior assim.
Com a “Rebel Heart Tour”, as coisas foram apenas um pouco diferentes. Quando tive certeza que iria ao show, a turnê tinha começado fazia bem pouco tempo, então fiz a mesma coisa e evitei ver vídeos. Vi algumas fotos, sabia algumas poucas músicas do setlist, mas nada completo. Queria, de novo, uma experiência inédita. Dessa vez fui com uma das minhas maiores amigas, que conheço desde o colégio.
Lembro que achei que a “MDNA Tour” tinha mais a ver com o greatest hits “Celebration” que com o álbum da época – ela cantava as inéditas da coletânea (“Revolver”, por exemplo) e versões cafonas ou pela metade de “Hung Up” e “Papa Don’t Preach”, que pareciam estar ali só pra constar.
Na nova turnê tem um pouco disse na forma de um medley de “Dress You Up” com trechos de “Into The Groove” e “Lucky Star”, além de “Burning Up” na guitarra. Mas a intenção é boa: são músicas que fazia mesmo muito tempo que ela não cantava. O que não é o caso de “Candy Shop”, que é uma música fraca (o catálogo de Madonna é muito vasto) e está no setlist pela terceira turnê seguida…
Mas, como o nome diz, essa é a turnê do “Rebel Heart” e isso fica muito claro. Contando com os vídeos interlude, são tocadas 13 músicas do álbum novo. É impossível parar de ouvir o tal disco depois do show, inclusive. Turnês são, afinal, a estratégia de divulgação de Madonna para seus mais recentes lançamentos e o lugar onde ela ganha mais dinheiro atualmente.
Quem conhece os clipes de Madonna sabe como eles são datados: as músicas continuam vibrantes, mas você assiste e é transportado para uma outra época, seja pelo tipo de música feita mesmo, seja pelos cabelos e figurinos. Nas turnês, o mesmo acontece, relembramos as tendências daquela época. Em uma ela pula corda, na próxima faz slackline e nessa tem pole dance, claro – mas ela faz o negócio numa cruz em cima de uma mulher vestida de freira. Estamos falando de Madonna, afinal.
Minha maior crítica às últimas turnês de Madonna eram os últimos blocos: parecia que ela gastava a bala toda no começo e os finais eram meio com o que sobrou. A “Rebel Heart Tour” é uma saborosa exceção. Pelo menos no show de Paris, ela pareceu começar tudo meio desanimada e foi ficando cada vez mais alegre, terminando a apresentação no ápice do ânimo.
Aliás, o que falar da apresentação de Paris? Ela falou algumas coisinhas em francês aqui e ali e cantou Edith Piaf (“La Vie En Rose”, claro), mas o momento mais tocante, com certeza, foi ver seu filho David Banda no palco logo depois dela fazer um discurso sobre os artistas franceses que a inspiraram e artistas de outros países que foram para a França em busca de compreensão. O menino, que está agora com 10 anos se não me engano, cantou “Redemption Song” (Bob Marley) no violão com a mamãe Madonna acompanhando no final. Um momento bem bonito que foi seguido pela música que dá título ao disco e ao show, uma balada autobiográfica que comove muito.
Pontos altos: em “Unapologetic Bitch” ela sempre pega alguém da plateia para dançar com ela no final. No meu show, foi ninguém menos que o estilista Jean Paul Gaultier, que animou a plateia. Vi Madonna tocar “True Blue” ao vivo, que é uma canção fofa com uma letra que eu adoro, e vi “Deeper and Deeper” e “Like A Virgin” em performances maravilhosas, cheias de cor e vida, de um jeito que nunca achei que testemunharia. A performance de “HeartBreakCity” é linda, mas não curto muito a música. Mas como tudo acontece numa escada lá na ponta do palco, é legal de assistir esse momento calmo do show. E fiquei ainda mais contente quando vi que no finalzinho ela puxa alguns trechos de “Love Don’t Live Here Anymore”, uma música “lado B” de 1984 que nunca imaginei ouvir ao vivo – e que me emocionou por ter sido, muitos anos depois de lançada, a trilha de muito chororô da minha adolescência. De todos os vídeos, o da abertura, “Iconic”, é o mais bonito e significativo – mas os malabares dos dançarinos em “Illuminati” me fizeram, literalmente, gritar. Essa é, provavelmente, a turnê mais harmônica da carreira dela. A mais animada segue sendo a “Sticky and Sweet” e a mais bonita segue sendo a “Confessions”, mas creio que “Rebel Heart” agrada gregos e troianos.
Provável único ponto baixo: “Living For Love”, que é uma música que eu genuinamente gosto e acho muito poderosa, fica só na reciclagem de todas as performances que Madonna já fez à exaustão em programas de TV e premiações. Podia ter mudado alguma coisa, ter feito a original e não o remix, deixado pra ser a última do show ou mesmo ter deixado de fora…
Enfim. Se eu quisesse, podia escrever sobre o show para sempre aqui. Eu já esperava um espetáculo por si só, mas o legal foi ver a própria Madonna super animada e assistir tudo num estádio fechado e pequeno, o que torna a experiência completamente diferente. Na impossibilidade financeira de viajar pra fora e ver outro show e na aposta que ela não deve trazer nada disso pro Brasil, me resta esperar os registros oficiais, DVD/Blu-ray, que devem sair apenas no final de 2016.
Falando nisso, essas fotos desse post são de divulgação, eu mesmo fiz poucos registros. Por causa dos atentados do mês anterior, a segurança estava super forte, então não levei câmera, mochila, nem nada disso. Mas fiz alguns vídeos no Snapchat (gabrielkdt) e juntei todos abaixo, só pra dar uma ideia de onde eu estava na plateia mesmo 🙂
Bitch, she’s Madonna!