Sobre ver um show da Madonna em Paris

Depois de adiar em muitos meses uma viagem que faria pra Paris em abril de 2015, acabei fechando tudo para o começo de dezembro. Na hora de comprar as passagens, fui checar se Madonna estaria por perto com sua atual turnê. Quando pisquei, estava eu lá no que eles chama de “fosso” (o equivalente deles à nossa área VIP), vendo mais uma vez de perto um show dela.

O primeiro que vi foi o “Sticky and Sweet”, do disco “Hard Candy”. Lembro bem do frisson e da comoção – que envolveu muitos problemas para comprar ingresso e uma viagem a São Paulo, pois não morava aqui ainda. A segunda vez foi a “MDNA Tour”, do álbum de mesmo nome. Eu já morava aqui e a experiência foi muito superior: além de estar bem mais perto do palco, estava acompanhado da minha irmã (outra super fã de Madonna) e tínhamos feito um combinado de não ver vídeo e nem ler notícias sobre o show. Assim, praticamente tudo que vimos no palco foi surpresa. O impacto é ainda maior assim.

Com a “Rebel Heart Tour”, as coisas foram apenas um pouco diferentes. Quando tive certeza que iria ao show, a turnê tinha começado fazia bem pouco tempo, então fiz a mesma coisa e evitei ver vídeos. Vi algumas fotos, sabia algumas poucas músicas do setlist, mas nada completo. Queria, de novo, uma experiência inédita. Dessa vez fui com uma das minhas maiores amigas, que conheço desde o colégio.

Lembro que achei que a “MDNA Tour” tinha mais a ver com o greatest hits “Celebration” que com o álbum da época – ela cantava as inéditas da coletânea (“Revolver”, por exemplo) e versões cafonas ou pela metade de “Hung Up” e “Papa Don’t Preach”, que pareciam estar ali só pra constar.

Na nova turnê tem um pouco disse na forma de um medley de “Dress You Up” com trechos de “Into The Groove” e “Lucky Star”, além de “Burning Up” na guitarra. Mas a intenção é boa: são músicas que fazia mesmo muito tempo que ela não cantava. O que não é o caso de “Candy Shop”, que é uma música fraca (o catálogo de Madonna é muito vasto) e está no setlist pela terceira turnê seguida…

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Mas, como o nome diz, essa é a turnê do “Rebel Heart” e isso fica muito claro. Contando com os vídeos interlude, são tocadas 13 músicas do álbum novo. É impossível parar de ouvir o tal disco depois do show, inclusive. Turnês são, afinal, a estratégia de divulgação de Madonna para seus mais recentes lançamentos e o lugar onde ela ganha mais dinheiro atualmente.

Quem conhece os clipes de Madonna sabe como eles são datados: as músicas continuam vibrantes, mas você assiste e é transportado para uma outra época, seja pelo tipo de música feita mesmo, seja pelos cabelos e figurinos. Nas turnês, o mesmo acontece, relembramos as tendências daquela época. Em uma ela pula corda, na próxima faz slackline e nessa tem pole dance, claro – mas ela faz o negócio numa cruz em cima de uma mulher vestida de freira. Estamos falando de Madonna, afinal.

Minha maior crítica às últimas turnês de Madonna eram os últimos blocos: parecia que ela gastava a bala toda no começo e os finais eram meio com o que sobrou. A “Rebel Heart Tour” é uma saborosa exceção. Pelo menos no show de Paris, ela pareceu começar tudo meio desanimada e foi ficando cada vez mais alegre, terminando a apresentação no ápice do ânimo.

peaceAliás, o que falar da apresentação de Paris? Ela falou algumas coisinhas em francês aqui e ali e cantou Edith Piaf (“La Vie En Rose”, claro), mas o momento mais tocante, com certeza, foi ver seu filho David Banda no palco logo depois dela fazer um discurso sobre os artistas franceses que a inspiraram e artistas de outros países que foram para a França em busca de compreensão. O menino, que está agora com 10 anos se não me engano, cantou “Redemption Song” (Bob Marley) no violão com a mamãe Madonna acompanhando no final. Um momento bem bonito que foi seguido pela música que dá título ao disco e ao show, uma balada autobiográfica que comove muito.

dadPontos altos: em “Unapologetic Bitch” ela sempre pega alguém da plateia para dançar com ela no final. No meu show, foi ninguém menos que o estilista Jean Paul Gaultier, que animou a plateia. Vi Madonna tocar “True Blue” ao vivo, que é uma canção fofa com uma letra que eu adoro, e vi “Deeper and Deeper” e “Like A Virgin” em performances maravilhosas, cheias de cor e vida, de um jeito que nunca achei que testemunharia. A performance de “HeartBreakCity” é linda, mas não curto muito a música. Mas como tudo acontece numa escada lá na ponta do palco, é legal de assistir esse momento calmo do show. E fiquei ainda mais contente quando vi que no finalzinho ela puxa alguns trechos de “Love Don’t Live Here Anymore”, uma música “lado B” de 1984 que nunca imaginei ouvir ao vivo – e que me emocionou por ter sido, muitos anos depois de lançada, a trilha de muito chororô da minha adolescência. De todos os vídeos, o da abertura, “Iconic”, é o mais bonito e significativo – mas os malabares dos dançarinos em “Illuminati” me fizeram, literalmente, gritar. Essa é, provavelmente, a turnê mais harmônica da carreira dela. A mais animada segue sendo a “Sticky and Sweet” e a mais bonita segue sendo a “Confessions”, mas creio que “Rebel Heart” agrada gregos e troianos.

Provável único ponto baixo: “Living For Love”, que é uma música que eu genuinamente gosto e acho muito poderosa, fica só na reciclagem de todas as performances que Madonna já fez à exaustão em programas de TV e premiações. Podia ter mudado alguma coisa, ter feito a original e não o remix, deixado pra ser a última do show ou mesmo ter deixado de fora…

Enfim. Se eu quisesse, podia escrever sobre o show para sempre aqui. Eu já esperava um espetáculo por si só, mas o legal foi ver a própria Madonna super animada e assistir tudo num estádio fechado e pequeno, o que torna a experiência completamente diferente. Na impossibilidade financeira de viajar pra fora e ver outro show e na aposta que ela não deve trazer nada disso pro Brasil, me resta esperar os registros oficiais, DVD/Blu-ray, que devem sair apenas no final de 2016.

Falando nisso, essas fotos desse post são de divulgação, eu mesmo fiz poucos registros. Por causa dos atentados do mês anterior, a segurança estava super forte, então não levei câmera, mochila, nem nada disso. Mas fiz alguns vídeos no Snapchat (gabrielkdt) e juntei todos abaixo, só pra dar uma ideia de onde eu estava na plateia mesmo 🙂

Bitch, she’s Madonna!

O incrível mundo invisível dos youtubers influentes

Ou “Minha vizinha também tem um blog muito bom e vai cobrar mais barato”

A dupla Ian Hecox e Anthony Padilla tem 20 milhões de seguidores em seu canal no YouTube, com vídeos engraçados, e estão lançando um filme (“Smosh — The Movie”)! Felix Kjellberg é um sueco de 25 anos que faz vídeos dele mesmo jogando vídeo-game e tem 40 milhões de seguidores em seu canal — em 2014, ele acumulou 12 milhões de dólares, segundo a Forbes!

O mundo dos youtubers nunca movimentou tanta gente, tanto dinheiro e tantas marcas. O número de pessoas famosas que você não conhece nunca foi tão grande.

Você se lembra do primeiro youtuber que assistiu? Eu sim. Era basicamente o PC Siqueira falando como ele preferia brincar com bonecos de dinossauros a fazer sexo. Ri bastante e pensei: “Esse carinha é engraçado”. Aí você adianta essa história, apenas cinco anos para frente, e hoje o tal carinha ganha mais dinheiro que toda a minha família junta. O que aconteceu nesse meio?

Vlogueiros não são novidade no mundo. Desde o comecinho da internet doméstica, digamos assim, tem gente no Japão com sua webcam ligada 24 horas por dia. Na maioria dos países, como no Brasil e nos Estados Unidos, youtubers (que é quem faz conteúdo apenas em vídeo, não necessariamente baseado em um blog) se estabeleceram em um formato de sucesso: falar sozinhos, de frente para uma câmera, com regularidade e uma edição dinâmica. Os temas vão variando e a tendência é que cada um fale mais sobre os assuntos que ele domina (ou acha que domina), o que vai determinando o tamanho possível de sua audiência.

“Quanto mais você pensar ‘quero fazer sucesso’, menores serão as suas chances. Posso estar enganado, mas analisando a trajetória de todos os youtubers de destaque no cenário nacional e internacional, o único grande fator em comum que pude observar foi exatamente que todos começaram de forma despretensiosa, puramente para se divertir” — Felipe Neto ao Tecnoblog

E essa audiência e esses assuntos é que colocam o tal youtuber dentro da sala de reunião das agências na hora de criar uma campanha ou divulgar o lançamento de algum produto. O problema, geralmente, é entender se aquele menino ou menina são influenciadores mesmo para sua marca. Sozinho, isso já é uma novela, pois sempre tem alguém que resgata a famosa pergunta: afinal, o que é um influenciador? É apenas ter muito seguidores? Eu estaria rico se ganhasse um centavo pra cada vez que ouvi alguém dizer que “minha amiga também tem um blog de culinária que tem muitos seguidores e ela vai cobrar mais barato que esse cara aí, com certeza”.

“Ai, 6 mil reais por um post? Eu devia era ter feito um blog da vida kkkkk”. ATENDIMENTOS, todos que conheci na vida.

Isso gera sempre muita discussão, mas tem um certo fundamento: afinal, só é influenciador quem influencia alguém. Mas o buraco é mais embaixo que simplesmente ter audiência. Segundo Michael Wu, do Lithium (citado nesse texto aqui), o poder de influenciar depende de dois fatores: credibilidade, a expertise do influenciador em um determinado assunto; e o que ele chama de “largura de banda” (bandwidth), que é a habilidade do influenciador de transmitir esse seu conhecimento.

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Capa da Capricho de maio/2015

E é por isso que muitos deles parecem invisíveis pra tanta gente. A internet é poderosa o suficiente para propagar uma mensagem para longe, mas todo mundo vive dentro das suas bolhas demográficas ou culturais nas redes, e elas filtram o que chega até você. Influencers são tanto de massa quanto são nichados e se eles estão falando de assuntos fora do seu cotidiano, eles passam longe do seu radar.

O que os clientes não entendem (e, na verdade, muitas agências) é que ninguém pode ser um influenciador em todas as redes sociais — e muito menos em todos os assuntos. É sempre necessário parar, respirar, e pensar no influenciador como uma campanha completa e independente — e não como um pacotinho dentro de uma campanha tradicional, como geralmente é feito. Cada anúncio, em cada meio, tem um objetivo diferente.

É esse é o calcanhar de Aquiles na hora de vender a ideia pro cliente, que não conhece nenhum dos nomes tão belamente colocados nos seus slides. Você teve tempo para fazer uma imersão, perguntar pros seus sobrinhos e ver alguns vídeos — o cliente não. E acostumado a aprovar e alterar ad infinitum cada postzinho de Facebook que a agência cria, o cliente fica muito desconfortável em deixar na mão de um desconhecido a produção de um vídeo, afinal. E por que pagar tão caro em meia dúzia de “desconhecidos” se posso juntar a grana e pagar uma Fernanda Lima, não é mesmo?

Ao meu ver, a grande vantagem de um influenciador numa campanha é exatamente não ser a Fernanda Lima; é que ele fala de igual para igual com seu público, e de dentro da casa dele. Ter a estrela da novela usando o seu produto num comercial de TV em horário nobre é ótimo, mas você sabe muito bem que a dica da sua amiga sobre um produto conta muito mais quando você já está dentro da loja.

E é isso que esses youtubers representam: ao falarem do que gostam, atraem semelhantes e são vistos como parceiros para suas audiências. Por mais que muitos deles ganhem dinheiro e vivam disso, é muito mais natural vermos o Lucas Rangel falar sobre uma rede de fast-food que ver Fátima Bernardes falar sobre salsicha, mortadela e salame.

Para marcas, um bom influenciador é uma entrega de mídia e de conteúdo. Brifa ele bem, muito bem. Mas se você precisa enviar para ele o texto exato que ele tem que postar ou decorar, pule fora.

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“Quando faço check-in numa pousada e eles dão aquele papelzinho para preencher com nome e profissão, eu coloco que sou youtuber. É isso mesmo que sou, não quero nem saber” — Jout Jout em entrevista aO Globo

Outra peculiaridade desse mundo do YouTube é a rapidez. Enquanto a gente pensava melhor numa campanha que ia incluir um youtuberzinho que a gente curtia, ele cresceu, explodiu, e foi contratado com exclusividade por outra marca do mesmo segmento, em questão de semanas.

E que bom negócio esse: é muito vantajoso para uma marca ter um nome para chamar de seu, fidelizando pouco a pouco toda uma audiência que não para de crescer e que não é burra, e vai reparar se sua marca aparecer em seus vídeos favoritos com a mesma velocidade que vai sumir logo depois. Também segundo Michael Wu, é importante avaliar a possibilidade de uma pessoa ser influenciada e isso depende de quatro pontos:

a) Relevância: se as informações fornecidas não forem relevantes, elas serão ignoradas pelo seu público-alvo;

b) Timing: a habilidade do influenciador de entregar seu conhecimento ao público na hora certa, no momento em que as pessoas precisam saber ou ter aquilo. Fora dessa janela de tempo, a mensagem também poderá ser ignorada;

c) Alinhamento: o público do influenciador e o target do seu produto precisam estar no mesmo canal de mídia social ou então a informação vai demorar muito para chegar a ele — ou nunca vai chegar;

d) Confiança: o público-alvo precisa confiar no influenciador. Sem confiança, a informação é rebaixada, e sem um influenciador respeitado sua marca acaba virando uma apoiadora de pessoas sem noção (preciso nem citar exemplos aqui, certo?).

E voltamos à pergunta inicial: quem é a pessoa certa, então?

Depende do seu produto. Para seguir no exemplo que abre esse texto, o PC Siqueira fala de tudo em seu canal, mas sua especialidade sempre foi games, nerdices e gastronomia. Só faz sentido, então, uma marca de roupas fechar algo com ele se for pra divulgar uma linha de camisas com estampas de super-heróis. Qualquer outra coisa vai parecer propaganda — e as novas gerações correm pro lado oposto assim que ouvem um locutor anunciar que “é só até amanhã!”, mas engolem como água product placements assinados com um “olha que legal isso” saindo da boca de seus ídolos-amigos.

Então não fique preso aos mesmos nomes e deixe seu cliente sempre o mais atualizado possível do que está acontecendo — mesmo em épocas que não há campanha no ar. Mostre pra ele que o mundo é muito mais (e muito melhor) que apenas a Pugliese. Afinal, o número de pessoas famosas que vocês não conhecem nunca foi tão grande — tire vantagem disso.

Texto originalmente publicado no YouPix

Vale dizer: o autor desse blog tem um canal no YouTube, sabia? Clique aqui pra conhecer.

Tina Fey odeia Madonna

Eu amo Tina Fey. A conheci quando era um jovem adolescente e esperava minha mãe e irmã irem dormir pra ficar vendo as reprises de “Saturday Night Live” nas madrugadas do Canal Sony. A vi na mesa do “Weekend Update” com Jimmy Fallon e Amy Poehler e depois me tornei fã de carteirinha de “30 Rock”, onde me encontrei no que se refere a humor com referências e timing. Li seu livro, “Bossypants”, ainda em inglês e em uma semana – e vi toda a primeira temporada de sua nova série, “Unbreakable Kimmy Schmidt” em dois dias, assim que saiu na Netflix.

E eu amo Madonna. Desde que as batidas de “Music” invadiram as paradas eu acompanhei a carreira dessa mulher, um passo de cada vez – e um passo pra frente, um passo pra trás. Me apaixonei de vez por “American Life” (acho que essa mulher nasceu pra cantar em cima de violão com uma camada eletrônica por cima), e fui voltando com “Ray of Light”, fui até “Like a Prayer”, e hoje conheço qualquer música com o toque de apenas uma nota, maestro.

Mas algo me diz e tudo indica que Tina Fey não ama Madonna. Aliás, a odeia. A comediante desdenha o fato da cantora ser uma ricaça extravagante – mas pelo menos transforma isso em humor e tira risadas até de quem é fã da Material Girl. Vem comigo que eu te mostro as provas.

Weekend Update

Quando a cantora anunciou a Re-Invention Tour, turnê de promoção do álbum “American Life”, Tina anunciou no jornal satírico do SNL: “Madonna disse que vai usar uniforme militares no palco para mostrar as tragédias da guerra. E também vai usar um biquíni para mostrar a tragédia da passagem do tempo”.

Em outro momento, havia um boato (falso) de que Madonna voltaria a atuar. E Tina não perdoou: “O cineasta Guy Ritchie anunciou que Madonna, sua esposa, vai interpretar um pequeno papel em seu novo filme, ‘Revolver’. Madonna fará o papel da mulher que arruina o filme”.

30 Rock

Na primeira temporada, Tracy está em busca de uma nova religião e conversa com todo mundo à respeito da escolha. Ele acha que ter sua fé renovada vai pegar bem no seu currículo de ator. Em um dos momentos, ele tem a seguinte conversa:

Jenna: Kabbalah é uma religião maravilhosa que mistura a parte divertida do judaísmo com mágica! Tracy: E onde você prega? Jenna: Em todos os lugares! Minha amiga, Madonna – (Outro personagem, Eddie, passa no corredor) Tracy: Ei, irmão do Jack! Qual sua religião? Essa daqui está parecendo muito cara e gay.

Em um outro episódio de “30 Rock”, Jenna começa a testar intervenções cirúrgicas para parecer mais jovem. Liz tenta a convencer a parar com essa loucura toda apresentando duas opções: envelhecer com dignidade como Meryl Streep ou agarrar na sua juventude como Madonna e seus braços de Gollum, referindo-se ao personagem de “O Senhor dos Anéis”.

Meninas Malvadas

Alguém mais reparou que Damian tem um pôster da Madonna no quarto? Junto com Celine Dion e Mariah Carey…

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Unbreakable Kimmy Schmidt

Em uma cena rápida, Lillian está assistindo um game show de perguntas e respostas. A categoria da vez? “Piores canções da Madonna”. A dica é: “essa música de 1987 é horrível”, e a resposta certa era “Who’s That Girl“.

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Na mesma série, no quarto episódio, Kimmy visita um cirurgião plástico hilário chamado Dr. Grant, uma caricatura perfeita de homens que fazem tantas intervenções que perdem seu traços reais, resultando exatamente no oposto de sua intenção de parecer jovem. O cara é obviamente baseado em Dr. Brandt, extra oficialmente conhecido como o dermatologista adivinha de quem?

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Além disso, quando o Kennedy Center premiou o comediante David Letterman, em 2012, Tina foi uma das pessoas que prestou homenagem. O discurso é maravilhoso. Mais para o final, ela conta como o apresentador é um excelente professor quando a matéria é “toma aqui mais corda [para se enforcar]” – querendo dizer que ele dá espaço para as pessoas se fazerem de idiotas por conta própria. E cita a cantora: “Ele dá um passo pra trás e deixa Madonna ser uma burra de grife”.

Que fixação.

Uma obsessão infinita: a opinião alheia

Yayoi Kusama é uma artista plástica japonesa nascida em 1929 que já fez de tudo: pintura, vídeos, instalações, esculturas e performances. E, dentro de cada um desses itens, coisas muito diferentes – entre si e dos demais. “Obsessão Infinita” é a primeira retrospectiva de sua obra a ser apresentada na América Latina e reúne mais de 100 itens, uma curadoria que vai de 1950 a 2013.

Claro que eu não sabia de nada disso, copiei do programa da exposição. Aliás, até dia desses, nunca tinha ouvido falar nessa mulher. Mas tudo bem. Não sou mesmo a pessoa mais ligada em arte, minha ignorância no assunto não faz nada a não ser justificar sua própria existência.

Mas esse não parecia ser o caso de todo o resto da cidade de São Paulo que, no feriado de 9 de julho, depois de uma lavada da seleção brasileira de futebol em um certo torneio, decidiu ir toda para o museu.

A fila era longa, muito longa, eu não teria enfrentado se não estivesse acompanhado por alguém decidido a entrar. As pessoas enfrentam agora, na reta final da exposição no Instituto Tomie Ohtake (Rua Coropés, 88, Pinheiros), de 1h a 2h de fila para ver as obras da japa.

Aliás, era assim que ela era referida na fila. “Vim ver a exposição da japa”, disse uma menina ao celular atrás de mim. Muita gritaria e selfies na fila, que mais parecia para um show da Miley Cyrus por ser longa, cheia de muitos adolescentes com seus pais e jovens adultos com seus amigos, e também por contar com uma moça vendendo água, cerveja e refris num isopor.

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Quando finalmente colocamos o pé dentro, surpresa!, mais fila. Cada sala tem a sua, é impossível circular livremente. É muito claro que mesmo agora o lugar não está preparado para tanta gente. Eu nunca vi filas tão longas nem nos piores dias das exposições do David Bowie ou Stanley Kubrick no Museu da Imagem e do Som (MIS). O que é que essa japa tem? De onde sai tanta gente tão sedenta por arte abstrata?

Bom, a primeira instalação tinha uma coisa curiosa: um aviso de permanência de 20 segundos. V-i-n-t-e s-e-g-u-n-d-o-s. E aí eu entendi tudo: quando o grupo que entrou na minha frente (ninguém sozinho, ninguém sem um celular em mãos) foi literalmente expulso de lá pelo segurança – da maneira mais rude possível – uma das moças virou pra mim e disse: “olha, só dá tempo de tirar foto e ir embora”.

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Usar esse curto tempo para tirar fotos e apreciar a obra depois faz sentido, mas é contra a intenção da artista caso esse tempo limite fosse decisão dela – o que nem sei se é o caso. Ou seja, aquela fila toda de pessoas lá fora estava era só querendo um cenário diferente para suas fotos.

Eu não sou contra quem tira fotos em exposições, eu mesmo já tirei várias fotos em museus. Claro, vê-las em sua timeline pode incomodar pois não deixam de ser spoilers, mas todo mundo tem direito de registrar a experiência – e querer controlar o que o outro posta nas redes dele é dar murro em ponta de faca. E não tenho nada contra selfies também, muito pelo contrário, já até escrevi um textão falando sobre elas. A questão dessa exposição, a meu ver, não batia em nenhum desses assuntos apenas. Era uma questão de validação.

“Olhem pra mim, eu vim na exposição!” era o que todos pareciam querer comunicar. As obras eram meros backdrops para fotos. A prova disso eram as filas nas instalações (que, de fato, são lindas) enquanto os textos de biografia e rascunhos de obras estavam às moscas. Na seção dos quadros, havia tanta gente tirando foto de si ou uns dos outros – e não das obras – que o fluxo de apreciação era completamente atrapalhado. Meu interesse na pintura estava atrapalhando a foto alheia e faziam questão de me verbalizar isso. “Tira foto na frente daquele quadro azul, vai combinar com sua blusa” foi uma frase que eu ouvi, de verdade.

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Depois dessa acima, há uma sala incrível com espelhos, luzes e água. O tempo de permanência lá já não está estampado em lugar nenhum, mas é imposto por um segurança que fica na porta GRITANDO pra quem está lá dentro não parar de andar. No meu grupo estava essa menina da foto acima, que a cada metro revezava um clique com a mãe. Parada numa pose, interrompeu o fluxo e o segurança da sala DESLIGOU AS LUZES DA INSTALAÇÃO e mandou o povo acelerar. Já me falaram que não foi bem isso, que fica escuro mesmo quando o ciclo de luzes piscantes acaba. De qualquer forma, se fiquei 15 segundos ali, foi muito. Ou seja, não vi nem um ciclo completo. Não me deram oportunidade de apreciar nada no meu ritmo.

Era muito antagônica a sensação de estar cercado de tanta cor e vida e sendo tratado como em um rebanho de bois indo virar carne moída. Era como estar, às 18h de uma sexta-feira, na estação de metrô Luz, mas com paredes neon decoradas com luzes de natal.

Não sabia se o excesso de fotos era por conta do tempo curto ou se o tempo curto foi imposto pois todos param demais para tirar fotos. É o ovo e a galinha.

Pensava: quem aqui conhecia Yayoi Kusama antes? Tanto faz, é maravilhoso poder descobrir um artista novo já numa exposição dele! Eu sou a favor da popularização da arte, acho que quanto mais acessível melhor, e cada um interage com ela de um jeito diferente, não deve haver protocolos. Mas confesso que, na fila, tentei desenhar algumas variáveis: será que ia ter tanta gente aqui se exposição não fosse de graça? E se não pudesse tirar foto? E se fosse num outro espaço?

É que não estamos numa cidade que tem a igrejinha e o coreto e aí, de vez em quando, instalam um circo na cidade e ele lota toda noite pois é a única coisa que tem pra fazer. O cardápio cultural de São Paulo é muito vasto e tem mil eventos igualmente gratuitos e acessíveis espalhados por aí sem ninguém os visitando. Por isso repito que minha questão é a seguinte: de onde veio tanto interesse nessa mostra da Yayoi Kusama?

Meu palpite: das redes sociais.

Afinal, pra onde você acha que foram todas essas fotos que vemos sendo tiradas?

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Para muitas pessoas, atualmente, fazer algo só por fazer e só para elas mesmas não é suficiente. É preciso divulgar, validar pelos olhos dos outros. Se não registrei, não fiz. Quanto mais gente ver que me diverti, mais diversão eu tive. Cada um dosa à sua maneira, mas de forma geral acho esse movimento uma pena. Tira as pessoas do presente um pouco, e cria uma memória de algo que, na verdade, não existiu.

As vezes parece que a possibilidade de registrar que se fez algo influencia a tomada de decisão entre o fazer e o não fazer: a festa na casa do vizinho não gera check-ins nem tem fotógrafos profissionais registrando, então melhor nem ir.

É o cara que sente como se tivesse lido o livro depois de tirar foto da capa, é quem posta mil fotos da ida à praia direto da areia ao invés de aproveitar o passeio, é a galera que vai pra grade do show mas vê tudo pela tela do celular pois filmar é mais importante, é a menina que sente que já malhou o suficiente hoje depois de tirar foto com roupa de ginástica no espelho da academia. É viver sua vida para os outros.

E é isso.

Uma coisa foi alimentando a outra. Selfies e mais selfies numa exposição plasticamente bonita levaram selfers e mais selfers até ela. No fim, saem ganhando eles com seus lindos cliques e sai ganhando a galeria que teve seu recorde de visitas. Mas perde quem gosta genuinamente do trabalho de Yayoi Kusama e perde quem foi lá querendo, de fato, conhecê-lo.

Muitos pesos, muitas medidas

(Tentei reunir várias opiniões e conceitos nesse texto, mas vale lembrar que eu não estudei psicologia, sociologia nem educação física)

Nascer homem e branco tirou da minha frente muitos obstáculos. Mas pertenço a algumas minorias e isso me fez abrir a cabeça e perceber como é falha nossa sociedade em vários níveis.

Todo mundo tem preconceitos, mas a gente não pode deixar que eles virem discriminação. Uma das discriminações que sofri quando criança e adolescente vinha de uma coisa que eu não controlava: meus genes. E aqui não falo de ser gay, ter cabelos ruivos ou polidactilismo. Era que eu era magro.

Parece idiota. “Poxa: magro, branco, homem. Que sofrimento, né?”. Mas é que eu era magro mesmo. Magro demais. Coisas genéticas de metabolismo rápido que me faziam ser o último escolhido nos times da educação física, ter vergonha de todas as roupas do armário, não me sentir confiante com minha aparência o suficiente pra ficar com ninguém. Afinal, homem tem que ser macho e forte.

Gordo só faz gordice

O que chamamos de padrões estéticos são impostos pela mídia. Parece que tem um vilão na ponta de uma mesa tomando essas decisões, mas não é: Hollywood sabe muito bem (e tem os comprovantes de lucros das bilheterias pra provar) que um filme com o Ryan Gosling como ator principal dá mais certo que um filme com o Steve Buscemi. Mas olhe ao redor e me diga: na sua vizinhança tem mais caras parecidos com o Steve Buscemi, certo?

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Quando você olhou pra essa foto você viu um picolé ou uma pequena pá de areia?

E aqui nasceu o primeiro preconceito, acho. Tem milhões de gordos no mundo, mas nunca sendo bem representado nos pacotes midiáticos que ditam muito do comportamento da sociedade. No cinema, na novela e na propaganda só pode ser gordo se for engraçado, falar sem parar de comida, soltar pum na frente de outras pessoas. É o problema dos negros serem sempre empregados e dos gays serem sempre afetados nesses mesmos produtos da mídia.

Mas as coisas estão mudando. Quero dizer, existem personagens sérios em filmes e séries interessantes que são, por coincidência, gordos. É preciso transformar essa característica em só mais uma, eu acho.

Um amigo uma vez escreveu sobre todos os malabarismos que as pessoas faziam para não chamá-lo de negro: como se fosse ofensiva essa palavra, sempre usavam a expressão “moreno escuro”. Acho que essa é uma questão presente na vida das pessoas sempre chamadas de “fofas, cheinhas, gordinhas, gracinhas”. Alto, magro, gordo, baixo são apenas características que devem ser usadas abertamente com quem se reconhece nelas.

A campanha Dove “pela real beleza” foi a primeira vez, que eu me lembre, que vi essa discussão aparecer e ir para outros campos. “É muito fácil fazer lingerie pra essas modelos magrelas”, diziam as fãs da campanha (aqui provavelmente sua mãe e suas tias), “quero algo pra mim”.

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“Deixar modelos tamanho 30 mais firmes não teria sido nenhum desafio”, diz o anúncio.

Ao meu ver, funcionou.

Muita (muita!) gente discorda, mas acho que essa campanha trouxe pro holofote várias questões e a partir daí comecei a testemunhar mais e mais conversas sobre amar seu corpo como ele é e não seguir padrões bobos. Pelo menos a conversa ficou mais mainstream depois disso.

A beleza está nos olhos de quem vê

São muitos tipos de humanos nesse mundo. E o número de preconceitos acompanha. Fiz uma enquete no meu Facebook sobre isso e deu de tudo: gente que sofreu bullying por ser gorda ou magra demais (“demais” comparado a quem, né?), negra, ter cabelo liso, ser baixinha, ser bunduda…

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Alto, baixo, gordo, magro. Se reconhecer nesses rótulos é uma coisa, aceitá-los é outra. Eu sabia mais que qualquer pessoa que eu era um branquelo magrelo – espelhos e balanças não mentem. Mas eu não gostava. E uma grande parte dos meus anos de terapia foi pra lidar com isso: eu também quero fazer parte da galera Amo Meu Corpo Como Ele É, mas eu não amo. O que faço? Aprendo a amar ou tento mudar?

Que tal as duas coisas? Tô tentando isso. Não sou e nem me sinto superior por causa disso – inclusive pois ainda estou longe da minha meta -, mas essa minha decisão levantou outros questionamentos e incômodos.

Incômodos alheios.

Quando eu virei vegetariano, por exemplo, senti na pele: nenhuma discussão de direitos animais era levantada por mim e nenhum veto de escolha de restaurante na hora do almoço era meu. Mas, mesmo assim, minha opção incomodava muito. As pessoas se sentiam ofendidas com a minha decisão ou força de vontade, sei lá. “Eu não conseguiria parar de comer carne”, me diziam sempre, sem eu ter perguntado nada. E eu pensava: ok, que bom que não tem ninguém aqui te pedindo pra fazer isso. Afinal, eu estou aqui na minha; se você gosta de carne, coma carne.

E o que mais testemunho agora é isso, gente julgando minhas novas mudanças de hábito: “você é magro, pode comer sobremesa sim”, “você não cansa de comer a mesma coisa todo dia?”, “nossa, como você consegue comer isso?”. Gente, eu estou aqui na minha, não gosta, não olha, não faz.

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“Como é bonita uma mulher que luta! Você não acha?”

É muito injusto ver as mesmas pessoas que compartilham ~campanhas Dove~ comentando em fotos de passistas de escola de samba falando que elas são “masculinas demais, torneadas demais, musculosas demais”. Parece que os conceitos se confundiram. Real beleza é ver valor em todo tipo de beleza. O corpo é delas, as moças musculosas fazem o que elas quiserem. Mesmíssimo direito que todo mundo tem.

A beleza que eu vejo pode ser só minha, talvez você não veja, mas ela também merece ser respeitada. Cada um tem seu conjunto de características que acha bonitas nos outros, cada um tem tesão em certas coisas – e essas coisas podem ou não estar em sintonia com o que aparece nas páginas de uma revista. Injusto é achar que todo mundo ao redor tem que ser do jeito que você gosta. Repito: todo mundo tem preconceitos, mas a gente não pode deixar que eles virem discriminação.

Se sentir atraído por pessoas que não seguem os padrões pré-estabelecidos de beleza não te faz profundo; do mesmo jeito que sentir atração por pessoas que seguem os padrões não te faz burro.

Dia desses conversei com um cara na academia e ele reclamou exatamente disso:

Todo dia alguém chega pra mim e fala: “Para de malhar tanto, isso não faz bem, você vai explodir desse jeito” e eu tenho que sorrir e mudar de assunto. Mas experimenta chegar pra um gordo comendo um McDonald’s e falar: “Para de comer isso, isso não faz bem, você vai explodir desse jeito”! Aí você é reativo, babaca, sem educação…

Foi uma piada, mas eu entendi o que ele quis dizer.

Cada decisão é pessoal e cada um sabe de suas batalhas, do que está abrindo mão e o que está ganhando. O que não dá é aguentar quem discrimina quem escolheu um caminho diferente do seu.

Vamos todos relaxar

Em seu livro “Bossypants”, a atriz Tina Fey, então mãe de uma menina, reflete sobre os padrões de beleza do mundo quando fala de bonecas de cabelo preto ou amarelo (ela se recusa a usar a palavra “loira”) e celebridades. Meu trecho favorito:

Acho que a grande mudança no padrão de beleza feminino veio com a bunda da Jennifer Lopez. Foi a primeira vez que essa parte do corpo virou mainstream nos Estados Unidos. As meninas queriam ter bundas agora. Homens se sentiram livres para admitir que gostavam de bundas. E, momentos depois, chegaram as pernas da Beyoncé. E aí as pessoas começam a admirar coxas grossas e foi aceito que todos os tipos de corpo são bonitos. Ha ha ha ha. Claro que estou brincando! Tudo que Beyoncé e Jennifer Lopez fizeram foi aumentar a lista de atributos que as mulheres precisavam ter para serem consideradas lindas. Agora, é esperado que toda moça tenha olhos azuis, lábios espanhóis, um narizinho de botão, uma pele asiática sem pêlos com um bronzeado californiano, uma bunda jamaicana, longos braços suíços, pequenos pés japoneses, a barriga tanquinho de uma dona de academia, os quadris de um menino de 9 anos, os bíceps de Michelle Obama e os peitos de uma boneca.

Tenso, não?

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É engraçado, mas é triste. Ficou linda pra quem? Em que critérios você está se baseando pra chamar suas características físicas como as necessárias para “ser linda”? Isso é validar sua vida pelo olhar do outro, pelos conceitos dos outros. Tem que ver isso aí, moça.

Sim, cuidar da aparência pode ser algo superficial, mas isso significa que é inválido? Certos padrões podem oprimir, mas se formos perseguir quem faz parte deles vamos acabar com todo o elenco dos nossos filmes favoritos. Os cartazes da Dove não têm mulheres desleixadas. Estão todas arrumadas e bem cuidadas, fora dos padrões por opção, parece.

Sei lá. Teve uma época da polícia da saúde, de tudo ser light, detox, sem glúten. E aí teve um contra-movimento de resgate do catchup, do bacon e do churros. E agora essa galera não consegue conviver, como se fossem tribos inimigas.

Por baixo dessa ponte que chamamos de aparência física corre muito hormônio, glândulas, genes, escolhas e estilos de vida.  Chamar modelos de magrelas ou desnutridas, por exemplo, é ignorar uma verdade genética incontestável: a maioria delas não faz esforço pra ser magra. Falar que todas são bulímicas é tão errado quanto falar que todas as gordas são comedoras compulsivas ou que todo mundo que faz academia é burro.

A patrulha do corpo alheio está precisando de um chá de camomila.

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Querida TPM, ser linda de nascença é fácil, né?

Essas duas capas da TPM são os melhores exemplos disso. A edição tinha uma capa “falsa”, imitando a capa de revistas femininas sensacionalistas, com Alice Braga de maiô. A capa “real” traz a atriz com look despojado e a manchete verdadeira da revista. A publicação se traveste de amiga, mas não engana: a mensagem é que você tem que nascer bonita se quiser ser bonita.

No blog Já Matei Por Menos, Juliana Cunha escreve que essa capa despreza a mulher que “se esforça” para preencher os padrões.

Seja linda, mas vê se toma um banho rápido e não chateia os amigos com assuntos de dieta. Quando leio a TPM me sinto tão pobre, feia e incompetente quanto quando leio qualquer outra revista feminina.

Para ser uma mulher de Nova você precisa trabalhar muito, comer pouco e transar a cada dia numa posição diferente. Para ser uma moça da TPM você basicamente tem que nascer daquele jeito. A questão é: quem nasce assim?

Solução doce

O importante é harmonia, honestidade consigo e combinados. Entre você e seu corpo primeiro; depois entre você e seu cônjuge ou entre você e seu terapeuta – ou talvez só entre você & você baste.

Em um texto chamado “Queridas Gordas”, Polly analisa a cena de uma novela em que o personagem de Caio Castro, que está com uma gorda, diz que namora a moça pois “consegue gostar dela apesar dela ser gorda”:

1) Ai, ela é tão maneira que consigo perdoar o corpo dela NÃO EXISTE. Ela é tão legal e gosto tanto de conversar com ela que vou fechar os olhos e pensar na Gisele Bündchen NÃO EXISTE. O que existe é homem babaca que, por pressão social, tem medo de dizer ELA É MUITO LEGAL AND A BUNDA GORDA DELA É UMA DELÍCIA. Confie em mim, se uma pessoa está transando com você é porque ela se sentiu atraída pelo seu corpo. Seja ele gordo ou magro. Maneirice não deixa ninguém de pau duro.

2) Muita gente, mas muita mesmo, morre de tesão em gorda. Tem gente por aí que sonha toda noite com pernas roliças e cheias de celulite como as suas. De verdade. Então, por favor, NUNCA NA VIDA se acomode com alguém que não te faz sentir desejada. Apesar do que a novela e todas as revistas e os seus vizinhos possam dizer, tem muita gente por aí que vai te achar maravilhosa por completo, então não perca seu tempo com quem só te acha legal. Fique com quem te acha legal e gostosa.

Assinado: Gorda que pesa 140 kgs e nunca ficou sem piroca na vida.

Preciso falar algo a mais?

Vamos cada um cuidar do seu corpo e da sua vida?

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Pera que caiu um cisco no meu olho aqui

Madonna ainda chuta bundas

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Toda vez que vou em algum show juro pra mim mesmo que ele será o último. É muito perrengue: o lugar é longe, é muita gente junta, disputa de lugares, falta de educação, filas, cambistas na porta, vendedores de água atrapalhando sua visão. Mas aí anunciam que Madonna vai vir – e não dá pra ignorar.

O show é muito bonito e meio confuso ao mesmo tempo. Mais uma vez ela capricha demais nos primeiros dois blocos do show e deixa os dois últimos meio largados. Mas é tudo muito legal e divertido! A impressão, na verdade, é de estarmos vendo um show de greatest hits. Mesmo que ela não cante certos sucessos passados por inteiro, sempre há alguma citação pra te cutucar.

Por exemplo: “Girl Gone Wild” cita de leve “Material Girl”, em “Candy Shop” ela solta umas frases de “Erotica” e no fim mistura “Celebration” com “Give it 2 Me”. Além disso, canta “Like A Prayer”, “Express Yourself”, “Papa Don’t Preach” e “Open Your Heart” numa versão absurdamente bonita.

Enfim, eu adoro essa mulher e tudo que ela representa, todo o conceito de seja você mesmo, se dê valor, seja dono do seu talento, do seu corpo e da sua mente – sim, pois são essas as mensagens nesses 30 anos de carreira. Não sou fanático otário de achar que tudo que ela faz é impecável, mas também não sou desses que acha que chamá-la de “velha” e “tia” é um apelido carinhoso. Aliás, pelo contrário, e é sobre isso que queria escrever – não apenas sobre o show em si.

Entre os fãs de Madonna tem gente de tudo quanto é jeito. Mas as plateias não são feitas apenas por fãs e os comentários que ouvi ao meu redor durante o show foram bem bobos. A maior parte, claro, falando que “ela está velha demais pra fazer isso”.

Aí lembro que não estamos na presença de uma qualquer – e sim de Madonna.

Ela pode até perder quando disputa com Rihannas e Lady Gagas os pedidos feitos para os DJs nas boates e os votos das paradas adolescentes da MTV. Mas creio que ainda ganha no lado artístico que existe na música pop: uma das provas mais recentes é seu álbum “MDNA” que, entre uma música chiclete e outra, tem letras bem pesadas e pessoais – a maioria sobre seu divórcio do cineasta inglês Guy Ritchie.

Só acha que ela está velha demais pra fazer isso ou aquilo quem não entendeu esses recados que ela tenta passar desde o começo da carreira. Tudo bem, Madonna parece ter caído na armadilha que ela mesma criou. Precisa fazer turnê mundial, tanta dança, tanto telão? Talvez não, mas é isso que esperam dela, a mulher que inventou e aprimorou tudo isso. Mas ela mesma já disse, anos atrás, quando foi comparada à Britney Spears: “é preciso muito mais do que apenas tirar a roupa pra ser como eu”.

Madonna é pop, mas tem algo sério, relevante e verdadeiro a dizer, algo que não existe em profusão hoje em dia – é só ligar no VH1 em qualquer tarde de domingo pra comprovar.

E não vou nem entrar na discussão profundamente, mas vale lembrar: grande parte dos fãs é gay e uma boa fatia dessa comunidade é superficial, age como se não fosse envelhecer e tem como combustível tudo que é novo, não importando muito o conteúdo dessa coisa nova. Daí fica complicado mesmo.

Ah, mas e o show? O show é ótimo! Quero que saia o DVD logo pra eu poder rever várias vezes – e com a vantagem de não precisar lidar com essa galerinha chata do meu lado. (:

Pensando com Laerte

No filme “The Cement Garden”, de 1993, a personagem de Charlotte Gainsbourg é flagrada vestindo um menininho com roupas femininas. Ao ser questionada pelo irmão mais velho dele, ela diz: “Garotas podem usar jeans, usar camisetas e botas, pois é aceito ser um menino. Mas para uma menino, ser uma menina é degradante. Pois você acha que ser menina é degradante. Mas, secretamente, você adoraria saber, não adoraria? Como é que se sente uma garota?”

Tem bem pouco tempo que Laerte, um dos maiores e melhores cartunistas do Brasil, resolveu fazer algo muito corajoso: revelar para todo mundo que curtia uma onda crossdresser – que é quando uma pessoa começa a usar algumas peças de roupa ou certos acessórios que são, geralmente, atribuídos ao sexo oposto. A declaração foi dada à revista Bravo!, em sua versão impressa e também em uma pequena entrevista em vídeo, aqui.

“Na verdade, a minha convicção é que todas as pessoas gostariam de experimentar muito mais do que aquilo que os códigos sociais permitem, recomendam e limitam. Em se tratando de roupas, acho que as pessoas gostariam de frequentar outros parâmetros e outras áreas também. A vontade de vestir roupas femininas é muito mais frequente do que se imagina. As pessoas sofrem muito por não fazer isso, por achar que é uma vergonha ou algum tipo de diminuição.”, diz ele de forma natural e lúcida. “Vestir uma roupa feminina é constestar um parâmetro de gênero que vigora na sociedade. No limite, é uma coisa política. No fundo, é uma contestação de proposta de mudança. Mas é um prazer meu também”.

Fico feliz em ver gente que enxerga como uma babaquice esses mitos. Dividir a humanidade em gênero é uma coisa que nasceu com as religiões, com a ideia de que a divisão deveria vir das metades necessárias para conceber uma nova vida e com as antigas crenças da vida em matrimônio.

Voltando ao Laerte: “Eu não estou imitando uma mulher, não quero passar por mulher. Eu estou confabulando com um modo de ser que vem sido atribuído às mulheres. Assim como as mulheres – enquanto gênero – frequentam hoje modos, vestimentas e comportamentos que eram exclusivamente masculinos, acho que os homens deviam fazer essa passagem também”. Acho que ele tem razão.

Hoje, uma mulher tem a liberdade de usar calça, sapatos sem salto, não precisa de espartilho, pode falar alto, grosso e beber cerveja. Enquanto isso, nenhum homem pode usar blusa rosa, beber um drink de frutas, comer arroz integral ou ler poesias. A gente – eu, você, nossos pais, nossos tataravôs – chegou aqui há pouco tempo e se engana achando que o mundo sempre foi assim. As coisas foram evoluindo de uma maneira que, por sua lentidão, parecem naturais, mas não são. Em outras culturas, em outras épocas, matar um animal para comer era pecado; era impossível mudar de classe social; bebês usarem roupas amarelas atraía dinheiro; homens só faziam sexo com mulheres para procriarem, pois o prazer mesmo vinha da relação com outros homens.

As gerações mais recentes são daquelas que obrigam o menino a enfrentar precocemente situações para as quais ele talvez não esteja preparado, mas tem de ir em frente porque é homem. Não pode ter medo, não pode chorar, não pode dançar, não pode gostar de arte. O resultado é um bando de gente despreparada para lidar com o desconforto, com o sagrado, com o feminino – e um monte de mulheres insatisfeitas com seus próprios homens, claro.

A chamada “cultura ao redor” não pode ser mais forte do que nossa vontade de mudar e nossa inclinação a pensar diferente, a pensar sobre nossos hábitos e sobre os nossos próprios pensamentos. Não há quem resista a tanta pressão e angústia, presentes dos dois lados da moeda. Passou da hora de todo mundo aprender a cuidar da sua vida. No seguinte sentido: se a coisa que faz bem para você não faz mal para ninguém, significa que a coisa faz bem a todos. Liberdade é isso.

É isso

Acabei de chegar do cinema e fui ver “This Is It”, documentário feito com cenas dos bastidores do que seria a última turnê de Michael Jackson. Posso dizer, de verdade, que estou meio sem fôlego. O longa não é piegas e é muito interessante ver o processo de criação de um show – especialmente um dele.

Ele começa com “Wanna Be Starting Something”, uma música que nem gosto muito, mas perfeita para a introdução. Mais para frente tem “They Don’t Care About Us”, e é curioso ver como MJ é obcecado – no melhor sentido da palavra – em associar essa canção com marcha e soldados.

Todas as projeções do show, que apareceriam no telão, foram finalizadas e essa é particularmente interessante. Mas não mais que a de “Smooth Criminal”, que coloca o cantor interagindo com os personagens de “Gilda”, filme de 1946 dirigido por Charles Vidor. Além de muito bem feito, a coreografia é impecável.

Em “The Way You Make me Feel” vemos que Michael ainda tinha voz. Fazendo dueto com uma de suas backing vocals, ele mostra muita habilidade. O fascínio dos dançarinos por ele é incrível. Todos acompanham os ensaios, mesmo as partes que não estão no palco, com brilhos nos olhos. Aliás, são os comoventes depoimentos deles que abrem o filme. Mas lembrando que nenhuma ceninha foi feita depois da morte de Jackson, ou seja, não há apelação sentimental. São apenas cenas de franqueza e admiração.

Um adorável momento é quanto o rei do pop volta no tempo e, com muitos vocais de apoio e um telão colorido, mescla clássicos do grupo Jackson 5. Mas uma das coisas irritantes é que Michael sempre termina as músicas de forma inacabada. Se ele não tivesse se tornado um ícone da assexualidade na sua pior forma, diria que ele é fã de preliminares. Demora muito para começar a música propriamente, com uma longa introdução. Depois, enrola bastante para finalizá-la, com vários truques e batidas e paradas e repetições. Fica previsível. Mas nada é mais irritante do que a mocinha do meu lado comentando com o namorado sobre o nariz dele. Poxa, não é hora disso!

Das habilidades dele como dançarino ninguém nunca duvidou. Mas bem sabemos que Sr. Jackson era um jovem senhor de 50 anos com uma vida não muito saudável, certo? Não é uma Madonna que corre e malha três horas por dia, seis dias por semana. Então, sim, Michael surpreende. E muito! Apesar de magro, ele não perdeu o jeito para a dança e realmente acompanha seus dançarinos, fortes e com metade de sua idade, em novos e antigos passos. Muita música deixa de empolgar por causa da falta da platéia. “Thriller”, minha favorita, vem meio descaracterizada e é um exemplo disso, mas não deixa de ser excelente. A coreografia antológica está lá junto com praticamente um clipe novo.

“Beat It” tem toda a vibe do ótimo clipe e “Black or White” perdeu um verso, mas manteve o gostoso rap. Até “Earth Song”, muito longe de ser minha favorita, ficou legal. “Human Nature” deve ser a mais fraca. Ele também canta “Billie Jean” com muita classe, muito ensaio e muita empolgação, “I Just Can’t Stop Loving You” e finaliza com “Man in the Mirror”. Algumas músicas podiam ficar de fora, pois um dos fatores mais legais do longa é a oportunidade de ver o cara ensaiar.

Michael sabe exatamente o que quer. Cuida de si e do palco ao mesmo tempo e controla – acredite – até os solos de guitarra. Sempre muito educado, não sobe a voz para ninguém, não se descontrola e faz de tudo para não parecer grosseiro, abençoando todo mundo e, na hora dos erros, explicando e confortando: “É por isso que a gente ensaia”.

Sabe aquela sensação de ter saudade de algo que nunca aconteceu? “This Is It” me deu isso. Teria sido um show absolutamente fantástico. O longa acaba deixando a morte dele ainda mais triste, mas a gente celebra a vida dele e se diverte ao mesmo tempo.

“Brüno”: genial ou homofóbico?

Acabei de assistir “Brüno”, nova comédia de Sasha Baron Cohen, ator também por trás de “Borat”, produção de 2006 indicada ao Oscar de melhor roteiro original.

O primeiro filme conta a jornada de um repórter do Cazaquistão aos Estados Unidos, mostrando as supostas diferenças culturais entre os dois lugares. Toda a produção tem um ar de “câmera escondida”, apenas registrando a reação das pessoas aos atos malucos do tal cazaque.

Novamente, o personagem principal dá título ao filme, mas Brüno é um repórter gay pra lá de caricato, especialista em moda. Austríaco, ele sai de seu país em busca de fama e se mete em inúmeras roubadas.

O que acontece é que ele não é famoso ainda e não pode sair ileso de excentricidades como falar mal de pessoas que não conhece, adotar africanos e ter a pretensão de acabar com a guerra no mundo. Ao encarnar um personagem como Brüno – que é superficial, afetado e incrivelmente burro – todos os alicerces da cultura norte-americana tem potencial para ser alvo de algum tipo de sátira, mesmo que não explicitamente.

O novo filme é muito mais incorreto que “Borat” e também muito mais ousado. Hilário ver Paula Abdul, por exemplo, falando que fazer trabalhos humanitários e ajudar outras pessoas “é como respirar o ar que respiro” ao mesmo tempo que usa um mexicano de quatro como poltrona. Impossível enumerar as cenas que mais ri, são muitas. Mas tenha uma atenção especial à viagem dele ao Oriente Médio, seus dias acampando e à música no final.

O principal erro é que, como em “Borat”, Cohen entra em um grupo – no caso, os gays – para provocar as pessoas ao redor, mas acaba satirizando o próprio grupo que se apropriou. Interromper uma passeata contra os direitos homossexuais vestido com roupas de sadomasoquismo é engraçado, mas de forma alguma contribui para qualquer tipo de tolerância, certo? O tiro sairia pela culatra se o objetivo fosse melhorar a aceitação dos gays na sociedade. Como não é o caso, o longa segue bem. Mas tem seus méritos no assunto quando, por exemplo, mostra quão ridícula é a fala de um pastor que, supostamente, “cura” gays.

Comédias desse tipo são especialmente engraçadas para mim, pois as pessoas ao redor acham que estão sendo acariciadas com risos, mas estão levando belas bofetadas na cara. A crítica aos costumes está lá e, no fim, você acha que a sociedade não tem solução mesmo. A intolerância e a ignorância estão enraizadas de uma forma muito profunda e você percebe que riu para não chorar. Mas pelo menos riu bastante.

Esse texto não é sobre Madonna e Guy Ritchie

Onde há fumaça há fogo, dizem. E os boatos de que Madonna e Guy Ritchie iam se separam estavam aí há muito tempo. A adoção de David Banda, órfão do paupérrimo país africano Malauí, foi interessante e bonita e tudo, mas não parecia uma versão pós-menopausa do famoso golpe da barriga pra segurar o casamento? Enfim, ontem, a porta-voz da cantora confirmou as fofocas da separação.

Analisando o casamento deles, dá pra sacar como era tenso. Além de cada um ser de um país diferente – alguém teve que ceder e se mudar – haviam filhos em casa e fotógrafos nas janelas. Mas eu realmente acho que a gota d’água foi a carreira. Imagine como é ser casado com Madonna.

Sem desmerecer Guy Ritchie, poxa. “Snatch” é um dos filmes mais legais que já vi. Mas nos últimos sete anos – tempo que eles foram casados – cada um foi para um lado. Com sua recente turnê, por exemplo, Madonna não para de ser mencionada e exaltada e sair de cada país varrendo milhões de dólares, enquanto Ritchie reeditou “Revolver”, um bom filme feito em 2005, pra ver se consegue algum trocado nas bilheterias britânicas – pois o fracasso nos Estados Unidos foi inacreditável.

Não há amor e Cabala no mundo capaz de abstrair isso. Por mais legal que fosse estar junto, devia ser humilhante pro machão do Ritchie viver às custas da esposa. Vão dizer que essa situação dava poder à Madonna, pode ser, mas se ela realmente amava o cara, nada mais nobre do que não se importar com o dinheiro que ele trazia para casa – principalmente pois já tem muito dinheiro no banco, né?

O namorado de uma amiga disse que o amor dele era “eterno enquanto durasse”. Expliquei pra ela que isso não quer dizer que é limitado. Pelo contrário. Enquanto existir, será eterno. Pois esse “eterno” é infinito. Tamanho, não duração. Que dure um mês, dois, um ano, sete. Todo esse texto foi pra dizer que acho que jogar todas as suas fichas em um relacionamento já é , por si só, a maior prova de amor que existe.

Para ouvir depois de ler: Miles Away – Madonna

The one and only

Este ano Madonna completa 25 anos de carreira e, amanhã, cinquentinha de idade. A importância dela é inegável. Todo mundo conhece uma música e, se acha que não foi influenciado por ela, com certeza foi por alguém que foi influenciado. Madonna inventou caminhos diferentes para a música pop e apertou botões na sociedade.

Madonna, vestida de noiva, mostrava a calcinha na MTV enquanto Michael Jackson levava a nomoradinha pra ver um filme de terror; ela é sinônimo de música pop com atitude. Um álbum com mais, outro com menos, o convite a reflexão está lá. Além disso, ela revolucionou a história do videoclipe e da maneira de montar shows ao vivo. Já falei sobre isso em um post que escrevi no aniversário do ano passado. Não vou falar que ela é gostosa e está toda em cima, não é sobre isso essa data, certo? Em sua discografia oficial, de “Madonna” (1983) a “Hard Candy” (2008), tem de tudo. Pop, rock, electro, acústico, rap, jazz, blues, house, musicais, baladas, midtempo. Não há cafetão por trás de Madonna, ela está no controle e, em seus discos e shows, entende de tudo – mixagem, sistemas de som, iluminação.

Se não for pra admirar a sua música, que seja seu dom para os negócios ou sua persona. Mesmo quem não curte Madonna precisa saber como ela é a voz de uma geração, um espelho transparente – as pessoas mudam com ela e ela muda com o mundo. Ela prova com graça e sem pretensões que é possível ser tudo ao mesmo tempo: sexy, casada, espiritualizada, ambiciosa, bonita, mãe, engraçada, perfeccionista. E essa capacidade de unir coisas distintas com harmonia me faz admirá-la. Eu tento ser assim, pois ela prova que é possível. Sem falar que gosto bastante das músicas também. Estamos todos de parabéns.

Um brinde a Amy Winehouse

Imagine uma moça magrinha que é a mistura da Janice, de “Friends”, com a Fran Fine, da série “The Nanny”. Agora cubra esta pessoa com tatuagens pin-ups e naivy e lhe dê o alcance vocal de Aretha Franklin, mas com a rouquidão sexy de Etta James. Pronto, você acabou de criar Amy Winehouse.

Nascida e criada numa família judia no subúrbio de Londres, Amy ganhou sua primeira guitarra quando era ainda uma garotinha. Ela e o irmão, Alex, até tentaram formar um grupo de rap. Seu pai era taxista e sua mãe farmacêutica, mas eles tinham um histórico de músicos de jazz na árvore genealógica. Ela já canta e toca há muito tempo, mas foi só depois de “Rehab”, uma bem-humorada e biográfica canção sobre overdose e reabilitação, que a moça apareceu nas paradas e conseguiu divulgar todo o seu trabalho – os álbuns “Frank” (2003) e “Back to Black” (2006).

Mas o negócio é o seguinte: Amy Winehouse, independente dessas coisas, é uma ótima artista. Tem uma ótima voz, boas letras e um super bom-humor – mesmo sóbria. E ela está lançando como aposta de vendas pro Natal seu primeiro DVD ao vivo, com as melhores canções dos dois álbuns. Novamente, ela não larga a birita durante o show todo, mas ela está uma delícia e cada segundo vale à pena de ver, rever e cantar junto. Chears!

Texto completo aqui.

PS: O DVD chama “I Told You I Was Troube: Amy Winehouse Live in London”, vem com 20 – sim, eu disse vinte – músicas e ta custando em média 40r$. Tô super aceitando, ok?

Da arte de ver TV nas férias

Gente, já é dezembro. Que coisa, não? Será que ouso escrever que passou rápido? Passou, mas é muito clichê falar isso, né? Esquece então. O negócio é que o mês doze sempre vem acompanhado de algumas coisas muito boas. A comilança natalina, as promoções de celulares por 10 reais e as férias. Ah, as férias.

Eu geralmente não viajo e nesse dezembro-janeiro-fevereiro não será diferente, mas adoro e até prefiro – pois, afinal, que opção de viagem eu tenho nesse Brasil se eu odeio praia, sol, cachoeira, sítio, fazenda e samba? Adoro ficar em Belo Horizonte nas férias. Posso beber cerveja todo pôr-do-sol. Posso ir ao cinema nas terças-feiras! Posso acordar tarde. Em casa lendo. Em casa vendo TV.

O-ou! A TV. Eu não me responsabilizo se, em duas semanas de férias, eu já souber de cor todas as histórias daqueles programas imbecis que passam nos canais abertos de tarde. Por que é assim: eu vejo cerca de quatro horas de TV por semana (sim, apenas isso!). Todas elas usadas na TV por assinatura. Mas uma vez que você passa o dia inteiro em frente àquela caixa você perde o interesse.

Os senhores Hanna e Barbera fizeram pra lá de 150 desenhos espetaculares, mas o Boomerang passa 18 horas seguidas de “Dom Pixote”. Todos os episódios de “Detetives Médicos”, do Discovery, sempre começam com a frase “era um dia como outro qualquer na pacata cidade de…”. O History Channel só fala sobre a Segunda Guerra Mundial, o People & Arts passa sempre o mesmo episódio de “Feira de Antiguidades” (ainda que o programa tenha 21 anos de acervo). A HBO exibe um monte de programinhas de bastidores antes de começar um filme e, quando ele começa, nunca é o filme do qual tratava o programinha. Já reparou nisso?

Então o lema dessas férias é: “Mexeu comigo? Mexeu com a Márcia!”.

Ela está de parabéns

“O nome dela está entre artistas como Beatles, Elvis e Frank Sinatra. Assim como nós, Madonna é a voz de uma geração. Só tenho que me curvar e aplaudir” – Paul McCartney


Madonna nasceu há 49 anos, às 7h08 da manhã, na cidade de Bay City. Madonna passou a sua infância em Pontiac e mais tarde em Rochester Hills (outro subúrbio de Detroit). Em Dezembro de 1963, quando Madonna tinha cinco anos, a sua mãe morre de câncer da mama, aos trinta anos de idade. O pai casa com Joan Gostafson, a governanta da família, que é sua esposa até hoje.

Frequentou a Rochester Adams High School, onde se distinguiu como boa aluna (QI 140) e, contra a vontade do pai, Madonna começa a ter aulas de dança aos catorze anos. Concluiu o ensino secundário e entra na Universidade do Michigan no curso de dança, mas aabandona o curso e com apenas 35 dólares muda-se para Nova York com o objetivo de seguir uma carreira de bailarina.

Passou por dificuldades econômicas e muda de planos: ao integrar a turnê do cantor disco Patrick Hernandez (conhecido por seu único sucesso, “Born To Be Alive”), conhece Dan Gilroy em Paris, que seria seu namorado e junto com o qual fundaria a banda “Breakfast Club”, onde Madonna muda de atuação algumas vezes (foi baterista, guitarrista e vocalista). Depois do fim da banda, Madonna criou outra, a “Emanon” (‘No name’, ‘sem nome’, ao contrário) carinhosamente chamada de “Emmy”, com um antigo namorado, Stephen Bray. Os dois brevemente decidem afastar-se da banda e começam a trabalhar só os dois em canções.

Assim, uma fita cassete com as canções que Madonna criou com Bray chegou às mãos do produtor e DJ Mark Kamins que a entregou à editora discográfica Sire Records, que contratou Madonna em 1982.

Música à música, as canções da fita são lançadas como singles compactos no mercado (nenhum com fotos dela, para o público achar que se tratava de uma cantora negra (!)) e fazem um bom sucesso. Então é encomendado o primeiro álbum, que é um estouro.

O resto é história.

Para ouvir depois de ler: How High – Madonna