“Madame X”: um ano depois

O álbum “Madame X” fez um ano de lançamento essa semana. Se você não gostou ou ouviu pouco, dê uma segunda chance para esse disco. Queria escrever sobre todo o potencial dele, mas para isso precisamos voltar no tempo um pouco. Respira bem fundo e vem comigo.

A história que quero contar começa em 2009, quando o contrato de Madonna com a gravadora Warner acaba. Madonna tinha vindo de uma sequência de dois álbuns muito diferentes finalizando este contrato:

AL“American Life” (2003) teve muitos problemas de divulgação por conta, principalmente, do conteúdo anti-guerra do primeiro single, que não teve o sucesso comercial esperado nos EUA. O mundo se adaptava aos poucos à realidade da pirataria e dos downloads – os shows ao vivo começavam a ser muito mais estratégicos como fontes de lucro primário. Sua turnê anterior, em 2001, focou nos discos que não tiveram turnês respectivas, com poucas músicas antigas. Agora, com a Re-Invention Tour, víamos uma produção consideravelmente maior, com faixas novas mais misturadas aos hits do passado, o que a transformou em uma turnê recordista de arrecadação na época. É dos bastidores dessa tour o documentário “I’m Going To Tell You A Secret”, que também teve sua trilha-sonora lançada pela Warner.

confJá “Confessions On A Dancefloor” (2005) teve um caminho bem diferente: o disco de eurodance produzido por Stuart Price teve uma turnê anunciada antes mesmo de seu lançamento e um nome direto: Confessions Tour. Novamente, os shows bateram recordes, mesmo tendo sido feitos em arenas médias, e o DVD e CD oficiais também venderam bem. O pacote disco + turnê mundial + registro dos shows definitivamente tinha se tornado o mais interessante comercialmente.

Para fechar o contrato, a gravadora ainda tinha direito a lançar uma coletânea. Pela Warner, já existiam “The Immaculate Collection”, com os hits dos anos 80, e “GHV2” (greateast hits volume 2), com os singles dos anos 90, além da “Something to Remember”, só com suas baladas românticas. A última foi “Celebration”, que ao invés de ser um “volume 3”, compreendeu hits de todas as épocas.

Então, quando Madonna rompeu com a Warner, ela assinou um contrato de 10 anos com a Live Nation, a mega empresa responsável por turnês gigantes, como as do U2, Shakira e Jay-Z – com palcos giratórios, telões e muitos efeitos especiais.

HCÉ curioso que uma faixa do disco “Hard Candy” (2008) pergunte: “você está passeando com seu cachorro ou é ele que está te levando pra passear?”, pois é isso que começaremos a ver. Decididos a criar um sucesso comercial igual ou maior ao do álbum anterior, Madonna se juntou com Justin Timberlake, Timbaland, Pharrell Williams e Kanye West para fazer um álbum que soasse urbano e contemporâneo. Há uma unidade na produção, mas Madonna acabou lançando faixas não tão diferente das que esses artistas faziam em seus próprios discos ou em suas outras parcerias. Entretanto, funcionou: a turnê mundial do álbum foi um sucesso absoluto, rodando o mundo por quase um ano e meio e enchendo estádios abertos. Só no Brasil, foram cinco datas, todas em estádios para mais de 80 mil pessoas, todas esgotadas.

mdnaDe lá para “MDNA” (2012), o álbum seguinte, o mundo tinha mudado. Lady Gaga já existia e streamings já começavam a ser tendência, ter um número expressivo em vendas de CD físico tinha ficado mais complicado. A solução foi pecar pelo excesso: a lista de produtores (incluindo de William Orbit e Benny Benassi ao Mika) era tão longa que faltava unidade ao álbum; ao todo foram lançadas 18 músicas, espalhadas em várias versões (CD standart, duplo, deluxe, vinil etc) pois sabe-se que isso estimula colecionadores a comprarem mais de uma versão e que, mesmo com essas divisões, o crédito da venda é contabilizado para o mesmo álbum nas listas de mais vendidos.

Mas, novamente, o objetivo principal foi atingido. Se você achava que o show de Madonna no Super Bowl foi para promover o lançamento do disco, você está errado. Foi já para promover a MDNA Tour, um sucesso maior ainda de arrecadação, com shows em todos os lugares do mundo – no Brasil, ela fez shows no Rio, em São Paulo e em Porto Alegre.

RHTrês anos depois, ela já estava com novos disco e turnê: “Rebel Heart” (2015) e a Rebel Heart Tour. A lista de colaboradores não parava de crescer. Estavam no disco Diplo, Avicii, Kanye West, Nas, Chance the Rapper e até Mike Tyson. Os streamings já tinham dominado e se tornado o principal jeito das pessoas consumirem música. O pagamento aos artistas é por play, então, do ponto de vista comercial, o que é melhor: o ouvinte ouvir o disco inteiro apenas duas vezes ou ter uma música favorita e ficar ouvindo esta sem parar? Sabemos que é a segunda opção: um fã da Nicki Minaj, por exemplo, pode ouvir e re-ouvir a música da Madonna que ela participa, sem precisar comprar o disco inteiro numa loja.

Tudo isso justificaria, novamente, essa mistura de estilos e excesso de músicas (uma das edições do álbum chegava a ter 20 faixas; outra, com menos, não vinha com a faixa-título do disco!). Mas, novamente, missão dada é missão cumprida: os shows à la Cirque du Soleil rodaram por lugares onde Madonna nunca tinha ido antes – como Taiwan, Tailândia, Hong Kong, Macau e Singapura – e a manteve como a mulher que mais lucrou com turnês na história da música (ela está em terceiro lugar na lista geral, atrás de Rolling Stones e U2).

Prestes a completar 60 anos, em 2018, o contrato de shows entre Madonna e Live Nation acaba e isso muda tudo para o álbum que viria, “Madame X” (2019).

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Antes, a cantora tinha chegado a falar publicamente sobre as dificuldades de seus discos anteriores: produtores envolvidos em muitos projetos paralelos, querendo fazer as coisas por e-mail. Disse que sentia falta de reunir as pessoas pessoalmente no estúdio, improvisar, e detestava o formato de ter “sessões” para escrever músicas, que é um processo muito comum nas produções pops atuais – o meme sobre o “cativeiro da Sia” vem dos relatos dela sobre o processo de escrever para os discos da Beyoncé, onde todos ficam enfurnados em uma casa alugada nos Hamptons “e só saem quando o disco está pronto”.

Diz a lenda que com a mudança de Madonna para Lisboa – para que seu filho treinasse futebol em um time de lá -, a cantora se encontrou sozinha em uma cidade sem amigos. E foi guiada aos lugares com músicas tradicionais na cidade, onde conheceu fado e batuka, ritmos que viria a incorporar no novo trabalho.

Madonna já tinha recebido Prince no álbum “Like A Prayer” e alguns rappers em “Erotica”, mas o protagonismo sempre foi dela. Com o fracasso comercial de “American Life”, veio a parceria com Britney Spears, que virou clipe, e uma performance no VMA que também precisou contar com Christina Aguilera e Missy Elliot. E, desde o primeiro álbum com a Live Nation, Madonna vinha cada vez mais aumentando as participações especiais em seus discos: artistas são como marcas e essa é uma maneira eficaz de apresentar Madonna para os fãs do artista convidado e, assim, ampliar seu próprio alcance.

Dessa vez, Madonna estava com o disco pronto e majoritariamente produzido por uma pessoa só: Mirwais Ahmadzaï (mesmo de “American Life”). Eram músicas que iam da celebração da vida até questionamentos políticos novamente, com influência da música portuguesa. Em “Madame X”, pelo menos teríamos menos featurings: Swae Lee, Quavo e Anitta.

Com o disco em processo de finalização, Madonna conheceu Maluma nos bastidores do VMA daquele ano. A possibilidade de uma parceria surgiu e foi bastante insistida pela Interscope, seu atual selo: Maluma é o menino dos olhos do mercado fonográfico que tinha, finalmente, se rendido a nível mundial para a música latina depois do fenômeno “Despacito”.

Dessa conversa e dessa pressão, em poucas semanas, saíram três músicas – duas para o álbum de Madonna e uma para o dele; os dois discos foram lançados com apenas 3 dias de diferença. A impressão é que as faixas de “Madame X” que foram julgadas mais fracas foram colocadas em segundo plano e lançadas como bônus de uma edição deluxe (“Fuana”, “Back That Up To Beat”, “Ciao Bella”) para darem lugar às dessa nova parceria.

Então, senhoras e senhores, “Madame X” foi lançado oficialmente assim:

1. Medellín (com Maluma⁣)

Madonna se imagina novamente com 17 anos vivendo uma outra vida, na cidade colombiana. O pop flerta com o reggaeton e a parceria mistura inglês e espanhol numa medida proporcional o suficiente para fazer a música se qualificar para as paradas latinas, onde performou bem. Na minha opinião, um pouco longa demais para alcançar o objetivo aparente de ser radio-friendly, mas definitivamente bem animada.

2. Dark Ballet⁣

Essa mistura de electro-gospel com Tchaikovsky parece prever as tensões políticas do ano seguinte, com sua letra sobre se rebelar contra o patriarcado, direcionada aos personagens opressores da política e das religiões: “Eles são tão ingênuos / Eles pensam que nós não sabemos dos crimes deles / Nós sabemos, apenas não estamos preparados para agir / A tempestade não está no ar, está dentro de nós / De dentro do seu capuz da Supreme você não consegue ouvir o vento que está começando a soprar?”

No clipe, vemos o julgamento e a condenação de Joana d’Arc, interpretada pelx rapper Mykki Blanco, que assina o clipe com uma frase: “Eu andei nesta Terra, negrx, queer e soropositivx, mas nenhuma transgressão contra mim foi tão poderosa quanto a esperança que carrego”.

3. God Control⁣

Madonna faz uma analogia entre armas e deus, e sobre como perdemos o controle sobre esses conceitos. O clipe mostra um atirador invadindo um clube e é praticamente uma campanha contra o porte de armas nos EUA. Por conta especialmente das mudanças no arranjo ao longo das faixas, a revista Variety considerou “God Control” e “Dark Ballet” como o mais próximo que Madonna chegou de sua própria “Bohemian Rhapsody”.

4. Future (com Quavo⁣)

O dancehall, co-produzido pelo Diplo, fala sobre prestarmos atenção no que está acontecendo no mundo, e só tem um problema: Quavo. O rapper tem um histórico de desrespeito com a comunidade LGBT+ e sua escolha para participar da faixa foi além de equivocada. Como é costume no pop, a participação foi apenas parte de uma troca: Madonna, por sua vez, tinha participado de uma faixa do disco dele, “Champagne Rosé”, também com Cardi B, antes. Pelo menos ganhamos uma performance no Eurovision: a edição do ano foi em Israel e Madonna colocou a bandeira palestina no palco no final de seu show.

5. Batuka⁣

Finalmente chegamos na primeira faixa com a tão falada inspiração portuguesa. Aqui, estamos nas batucadas de Cabo Verde, estilo de música criado há alguns séculos na ilha e, por muito tempo, condenado pela Igreja Católica por ser considerado um ato de rebeldia dos escravos.

Madonna compôs “Batuka” com seu filho David Banda, falando sobre como ainda falta muita caminhada para mudarmos o mundo, pararmos de julgar uns aos outros e tirarmos homens velhos do poder. Ela mistura elementos eletrônicos com o som da orquestra As Batukadeiras. No clipe, inclusive, o protagonismo é delas.

6. Killers Who Are Partying⁣

Voltamos ao fado e à guitarra portuguesa: segundo Madonna, essa foi a primeira faixa que ela escreveu para o disco, onde reflete sobre o fardo de todas as pessoas marginalizadas. Para um assunto tão pesado, a letra me parecia fraca nas primeiras vezes que ouvi mas, se você pensar bem, poucos artistas pops têm usado sua visibilidade para mensagens tão diretas.

“Todos esses homens poderosos estão posicionados em lugares em que comemoram e abusam de seu poder enquanto as minorias estão sofrendo. Os direitos civis que lutamos pela comunidade LGBTQ+, os direitos das mulheres, parece que tudo começou a retroceder [com os governo de direita] e senti que era realmente importante refletir minha raiva, meu senso de traição”, disse em uma entrevista na época do lançamento.

Enquanto ela canta em português que “o mundo é selvagem e o caminho é solitário”, Mirwais capricha na sobreposição dos instrumentos tradicionais com elementos eletrônicos. A música vai crescendo na medida que se desenvolve e a mistura de inglês e português finaliza a música lá em cima. Eu acho lindo.

7. Crave (com Swae Lee)⁣

A balada com Swae Lee, apesar de ser uma música acima da média entre suas baladas mais recentes, não parece fazer sentido com o resto do álbum. A estética novaiorquina do clipe, muito menos. A escolha dele e da faixa para virar clipe e ser lançada antes do álbum foi estritamente comercial. Quando a faixa saiu, foi até notado que o rapper não postou nada em suas redes sociais, por exemplo. No clipe, os artistas nem se encontram.

Definitivamente, a música teria o mesmo ou um maior impacto se fosse apenas com Madonna, ou mesmo substituindo Swae Lee por qualquer outro artista – alguém que se importasse, de preferência. Com certeza essa lista é bem grande. Essas parcerias com novatos, eu interpreto como uma vontade da Madonna (e pressão da gravadora) de se apresentar para audiências sempre mais novas.

8. Crazy⁣

“Eu te coloquei em um altar, mas estátuas podem cair. Me senti tão protegida, que deixei você me levar direto pro meio da guerra”…

A influência portuguesa volta à cena com acordeões nessa música super moderna sobre decepção amorosa, escrita em parceria com Starrah, que já escreveu para The Weeknd e Rihanna. A mistura cria um tipo de “chanson portuguesa” (isso existe?) com Madonna cantando com bastante energia. Talvez seja minha favorita do disco por isso, e também por ser sempre muito legal a ouvir em português.

9. Come Alive⁣

A influência da música africana em Portugal está nessa faixa: as batidas vem dos krakebs, instrumento criado por escravos libertos, feitos com os barulhentos grilhões que eles eram obrigados a usar para que tentativas de fuga fossem ouvidas de longe. É um chamado sobre paz e liberdade individual em uma música colorida com corais crescentes, o que a torna muito bonita, na minha opinião.

10. Extreme Occident

Com elementos de morna e música indiana, Madonna fala de suas experiências viajando o mundo em busca de sua própria identidade. Algumas partes parecem poesia falada e acho a letra redundante. Mas gosto de ouvir por conta da construção do arranjo em direção às linhas em português e, depois, sua desaceleração. É muito legal ouvir prestando atenção nisso.

11. Faz Gostoso (com Anitta⁣)

A música é um cover do hit da cantora Blaya, que nasceu no Brasil mas cresceu e fez sucesso em Portugal. O funk sobre um caso extraconjugal ganhou algumas frases em inglês e a participação de Anitta, que tinha elementos bons para uma parceria por ser grande o suficiente no Brasil e nas comunidades latinas para reapresentar Madonna.

Ver Madonna colocar uma cover em um novo álbum de inéditas já seria decepcionante por si só, mas a música tem erros piores, como a transição para o samba, que soa muito desconexa – esse trecho dava uma visível desanimada nas pessoas nas pistas e blocos de Carnaval em que ouvi a música tocar. A escolha de Anitta faz sentido comercial e digital (e deu certo, olha aí uma música nova da Madonna tocando no Carnaval)  mas, novamente, como no caso de Quavo, é Madonna se aliando a um personagem problemático do ponto de vista político, em um disco que era pra ser reflexivo.

12. Bitch I’m Loca (com Maluma⁣)

Do nada, voltamos para o reggaeton. Maluma parece cantar mais que Madonna na faixa, em que a maior parte de suas linhas são em espanhol. Nada me tira da cabeça que era uma demo do disco de Maluma que ficou de fora de seu álbum e foi reciclada – Madonna notoriamente já tinha feito isso antes em “Hard Candy” com Pharrell (procure pela demo de “Heartbeat”).

Uma música dançante com uma letra sobre nada e um título muito parecido com o de um single anterior, “Bitch I’m Madonna” – o que pode ser premeditado, tendo em vista que este clipe do álbum anterior é o com mais views em todo o canal de YouTube de Madonna (com participações de Beyoncé, Miley Cyrus, Katy Perry e Rita Ora, entre outros). Meu sentimento é que, mais uma vez, a pressão do selo força Madonna a atender algumas demandas de mercado e faz o conceito e a seriedade do álbum se perderem.

13. I Don’t Search, I Find⁣

Mergulhamos agora em um EDM pesado, mas não pulamos de cabeça: o dance noventista vai crescendo aos poucos em uma sensação que remete à uma “Vogue” moderna, com muitas camadas. É uma música que estranhamente funciona na pista e num lounge e se conecta bastante, também, com as primeira faixas do próprio “Madame X”, começando a fechar o arco do disco.

14. Looking for Mercy

Uma das canções mais pessoais de Madonna, nos mesmos moldes das baladas dos álbuns “American Life” e “Rebel Heart”. Fala sobre empatia, solidão, fama e busca por perdão, temas muito presentes em sua vida pessoal – entre polêmicas sexuais, casamentos falidos e buscas religiosas – e, consequentemente, pública. Acho bem bonita.

15. I Rise⁣

Madonna tenta criar um hino sobre sobreviver e prosperar em um mundo cheio de preconceito e violência. A fala inicial da faixa é de Emma González, uma sobrevivente dos atentados armadas à escola Stoneman Douglas, hoje ativista a favor do controle de armas e co-fundadora do Never Again, um comitê de estudantes. A mensagem esperançosa é muito boa para fechar o disco.

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O trabalho tem altos e baixos – cada um tem sua opinião sobre quais são os altos e quais são os baixos. O fato é que, pela primeira vez em muitos anos, Madonna realmente experimentou e fez coisas diferentes do que estava sendo feito por outros artistas. O problema dessa ousadia toda foi que ninguém sabia se a experimentação seria bem vinda. No passado, seus álbuns mais experimentais tiveram recepções muito diferentes.

Não havia mais contratão de shows com a Live Nation (a Madame X Tour que viria a seguir foi bancada por Madonna), a parte grossa dos lucros viria das vendas do disco físico e dos plays em streammings. Então, mais uma vez, ela viu-se obrigada a fazer algumas concessões, que vieram no formato de convidados – e até gêneros musicais – que não faziam parte do plano original do projeto. Inclusive, novamente, vimos o disco ser lançado em standart, duas capas diferentes, deluxe, vinil preto, vinil colorido e até em fita K7 – que custava só 4 dólares -, naquele mesmo esquema de esforço de concentração de compras.

Madonna costuma fazer uma festa particular com amigos para ouvirem seus discos pela primeira vez e essa festa já tinha acontecido antes do VMA em que a cantora conheceu Maluma. Por isso, é justo dizer que, originalmente, o álbum nem contava com ele. Depois de sua entrada no projeto e até o lançamento, o discurso tinha se adaptado e, em várias entrevistas, Madonna começou a classificar o álbum como “mundial”, e Maluma virou a co-estrela do primeiro single.

Levando tudo isso em consideração, recomendo: ouça apenas as faixas de “Madame X” que são só com Madonna.

Se você tira todas as faixas com participação especial, você tira do disco a influência daquela pessoa (e de tudo que vem junto dela em matéria de produção e interesse comercial). O que sobra é o que parece estar mais perto do que Madonna havia prometido e queria fazer originalmente: um álbum político com música eletrônica influenciada pela música portuguesa. Ponto.

A experiência de ouvir assim é completamente outra. Se você não ouviu muito o disco na época, tente agora, um ano depois do lançamento, fazendo isso. A mistura maluca de sons dá lugar às 10 músicas mais legais, que mais têm o que dizer.

Continuando a história

Agora, com a entrega de “Madame X”, o contrato com a Live Nation chegou ao fim. Curiosamente, Madonna ficou sem gravadora por poucos dias e logo voltou para a Warner – os detalhes e valores da negociação não foram divulgados.

Sua participação no remix de uma música da Dua Lipa foi o primeiro projeto na nova-antiga gravadora. O retorno pode indicar um foco maior em álbuns ao invés de turnês (é fato que a Madame X Tour teve alguns problemas pelo caminho por conta de logística e da própria saúde de Madonna) e talvez mais independência de M nos projetos.

Além destes dois pontos, espero que a volta para a Warner reacenda o brilho no catálogo de Madonna: seu primeiro disco é de 1983, todo ano tem algum álbum, single ou clipe clássico fazendo aniversário e estava tudo passando em branco. Durante os anos com a Live Nation, por exemplo, “Like A Prayer” comemorou 30 anos. Os fãs esperavam um relançamento, um box comemorativo, edições limitadas, demos e faixas inéditas lançadas – mas tiveram que se contentar com uma mera playlist de remixes no Spotify. A Warner não tinha interesse ou contratualmente não podia fazer nada além disso. Talvez a volta à gravadora antiga mude este cenário.

Quem viver, ouvirá.

Um comentário em ““Madame X”: um ano depois

  1. Faz tempo que não entro ( pois a senhora escreve de dois em dois anos rsrsrs) quando volto tem quatros posts!!! Vou ler cada um com calma e com espaço de três meses casa. Adoro seus textos! Bjs

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