Homens de saia

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“Nem todo menino quer ser um soldado”

Há algum tempo mantenho um tumblr inspiracional chamado Dressed Boys. São inúmeras imagens de homens usando trajes que culturalmente dizemos que são apenas para mulheres. Eu seleciono as que eu acho mais bonitas – seja por pura estética ou por algum motivo político mesmo. Por causa desse site, uma jornalista do International Business Times me entrevistou para uma matéria muito interessante sobre o fim dos gêneros na moda. A matéria completa pode ser lida aqui. Mas como muita coisa ficou de fora e eu tinha todas as perguntas e respostas salvas no meu e-mail, resolvi traduzir para português a conversa e colocar aqui.

Laerte na capa da revista Bravo!

Eu amo seu blog. Há quanto tempo ele existe e o que te inspirou a cria-lo?

Obrigado! Eu o criei em setembro de 2011. Aqui no Brasil há um famoso (e genial) cartunista chamado Laerte que, um ano antes disso, tinha decidido posar como mulher na capa de uma revista. Na verdade, ele usava apenas brincos e unhas com esmalte, mas desde então ele começou a falar cada vez mais sobre crossdressing e como esse desejo lhe era comum. Com o tempo, incorporou mais e mais peças femininas e, hoje, Laerte se identifica como mulher. Ela mudou muito da minha própria percepção de gênero e quanto mais eu pesquisava sobre o assunto, mais imagens interessantes eu achava. Então eu quis criar um lugar para colecionar todas, e assim nasceu o tumblr.

Por que esse interesse em imagens de homens usando roupas que não são apenas calças/camisas? Por exemplo, por que você gosta de saias?

Primeiro pois eu acho bonito. É desafiador e sexy de um jeito não-óbvio. Acho que não só mostra que a pessoa está em contato com seu lado feminino, mas na verdade com ela mesma. E a dualidade me atrai também. E gosto de pensar que tudo ao nosso redor é apenas comportamento cultural, ensinado. Como cultura, a gente sempre está fazendo algo não necessariamente por gostarmos, mas pois foi o que aprendemos que é certo. Homens usavam roupas bem parecidas com vestidos e saias na Grécia antiga, por exemplo. As coisas mudaram, mas não se tornou “errado” homem usar saia, é só incomum, a gente pode trazer elas de volta. Eu conheço caras que experimentaram saias e acham que elas são muito mais confortáveis que, por exemplo, um skinny jeans.

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Eu usando salto pela primeira vez

Você acha que o jeito de se vestir dos homens modernos é limitado? Você usa vestido ou saias ou outras roupas femininas, acessório ou maquiagem?

Eu acho que o jeito de se vestir dos homens fica limitado por causa do contexto social. Se um cara vai trabalhar em um escritório mais careta com uma blusa pólo cor-de-rosa, é bem provável que os colegas de trabalho apontem e façam piadinhas com ele, o chamando de gay ou algo assim. Mas se o cara estiver em um show de metal, ele pode usar maquiagem e esmaltes pretos e ninguém vai falar nada. E se você usar salto alto numa Parada Gay o mais provável é que todo mundo te elogie.

Eu mesmo não uso muitas coisas femininas: lembro de ter passado batom em algumas festas, mas basicamente só isso. Mas de vez em quando compro roupas na parte feminina de certas lojas – as peças lá caem bem e têm mais variedades de textura e estampa. As seções masculinas podem ser meio tediosas.

Você mora no Brasil – tudo isso é mais aceitável por aí ou é um tabu como aqui nos EUA? (Eu vivo em Nova York e já morei em Nova Orleans. Aqui é um pouco menos “chamativo” do que seria, digamos, em certas parte do Texas)

É um super tabu. Eu acho que o Laerte está ajudando, fazendo as pessoas pensarem um pouco mais na questão, mas é um movimento lento em um grupo pequeno de pessoas considerando a população do país. É impossível sair de saia por aqui sem ser apontado ou incomodado por alguém na rua pelo menos uma vez. No tumblr, eu deixo aberto o link para quem quiser me enviar fotos que acharem. Mas melhor que isso, tem muitos homens de todas as partes do mundo que me enviam fotos deles mesmos usando saias ou salto, o que é bem legal. Mas reparei que quase nunca são fotos em público, eles estão sempre em casa sozinhos. Aqui em São Paulo, tenho amigos que usam salto e/ou maquiagem na noite, mas não são coisas do dia a dia deles. E é curioso pois no nosso Carnaval é quase que tradicional que homens se vistam de mulher, mas é apenas uma semana por ano e parece que nunca a festa traz discussões profundas sobre o tema – e acho que devia trazer. Nesse ano, por exemplo, tinha um cara vestido de princesa na rua e um grupo de gays passou do lado e mexeu com ele (acho que gritaram algo tipo “que princesa gata!”) e ele apelou, chamando os caras de bichas, viados, e palavras piores! É tão complicado… É muito confuso para heteros, que nunca tiveram que lidar com nenhum problema de identidade de gênero ou orientação sexual, terem que entender de uma vez casamento gay, transgêneros, crossdressing… É muita informação nova, muitas vezes sem nenhuma contextualização ou conhecimento prévio (pois nada disso é conversado por pais ou nas escolas), para quem nunca precisou pensar em nada que não o próprio umbigo. Eles confundem os conceitos, misturam, às vezes são preconceituosos até sem perceber. Você precisa repetir tudo de novo toda hora.

Rodrigo Faro

Você está vendo isso aparecer mais em revistas/blogs que você lê e segue?

Sim e amo isso! Sempre digo que programas de TV e revistas são caixinhas de estilos de vida. Então ter homens de saia nesses lugares ajuda a naturalizar essa escolha de roupas – mesmo que esses ensaios sejam com intuito de ser apenas ambíguo, do cara ainda ser “macho” por baixo da roupa de “mulherzinha”, sabe? De qualquer forma, é um passinho mais perto da formação de uma moda com gêneros menos definidos. E, o mais importante, liberdade e uma economia de questionamentos e dores e dinheiro de terapia para os homens que têm vontade de usar essas roupas e fazem escondido ou nem fazem – pois acham que isso significa que eles são doentes ou necessariamente gays.

Jaden Smith: o filho de Will Smith virou notícia ao aparecer frequentemente usando saia – inclusive no seu baile de formatura, ao lado da namorada

Então, você acha que homens que usam vestidos e saias são gays? Você acha que alguém como o Jaden Smith (que eu acho que é hetero) vai tornar isso mais aceitável.

Eu acho que a maioria dos homens que vemos de saia hoje em dia são gays, mas porque eles estão mais acostumados a brincar com os papéis de gênero, mais confortáveis em serem ousados, e se importam menos com a opinião alheia – eles já passaram por muitas coisas e piadinhas, o que vai ser uma a mais em troca de conforto?

Mas entendo que isso ajuda também a confundir os heteros. Eles pensam: “bom, Bruce Jenner usa vestido, mas ela é um mulher agora! Andrej Pejic se veste como mulher, mas ele realmente parece ser uma. Marc Jacobs usa saia, ah, mas ele é gay”. Entende? Não tem ninguém igual ele usando saia por aí – ainda. Eles sentem que têm algo a perder, como se ninguém fosse respeitá-los nunca mais como um homem hetero se ele passar batom uma vez. Por isso eu posto imagens de famosos no tumblr também: Brad Pitt, The Rock e todos os membros do Nirvana e do Red hot Chili Peppers já posaram usando vestidos e são todos heteros, que eu saiba. Eles mostram que é “ok to play”.

Comediantes em carros indo beber café

Não é segredo pra ninguém que uma das minhas séries de comédia favoritas é “Seinfeld”. E seu protagonista e co-criador, Jerry Seinfeld, não precisava mais fazer nada na vida com o tanto de dinheiro que ganhou lá. Mas ele fez alguns documentários (destaco “Talking Funny”, projeto do Ricky Gervais) e o filme “Bee Movie”, por exemplo.

Seu mais novo projeto é o “Comedians In Cars Getting Coffee”, uma websérie. O próprio nome indica: ele pega um comediante amigo em casa e, de carro, vão para uma cafeteria ou restaurante, conversando sobre a vida e, principalmente, sobre essa incrível profissão que é fazer os outros rir.

Em suas três temporadas online, ele recebeu convidados de várias gerações e é muito complicado escolher os melhores papos.

Para mim, um dos destaques é Alec Balwin, que fala sobre infância e metas de vida aos 50 anos de idade. Atenção para a história que ele conta sobre Burt Lancaster no começo e a de Rip Torn no final.

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Outros três destaques sensacionais: Jay Leno descreve uma vez que foi fazer stand-up para mafiosos e padres, Tina Fey fala sobre sua vida em família, o prazer de comer o que você gosta (e muito!) e o fim de “30 Rock” saboreando um cronut –  e, claro, Chris Rock falando sobre bullying.

Temos também Sarah Silverman falando (com honestidade e humor) sobre cientologia e sobre mudar a vida das pessoas. Ela faz Jerry Seinfeld levantar da cadeira de tanto rir, mas também fala sério quando ele compara UFC e reality shows de donas de casa: “Elas são pessoas totalmente definidas por dinheiro ou homens. Queridas mulheres de certa idade, seu excesso de cuidados para não parecer velha é o motivo de suas filhas não sonharem com o futuro”.

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E o incrível Seth Mayers (ex-editor-chefe do SNL e agora dono do próprio talk-show) falando sobre seus pais, Louis C.K. falando do seu barco, de suas filhas e sobre ir ao cinema depois de fumar maconha e o histórico David Letterman falando de sua impressão sobre a comédia nos dias de hoje. Outro episódio imperdível (principalmente para fãs de “Seinfeld”), é o com Michael Richards (o Kramer!) falando sobre jogar xadrez com um mendigo.

Pra quê ver a conversa dos outros? Para rir. Esses papos valem como uma palestra para quem quer trabalhar no showbiz, gosta de séries ou simplesmente gosta de rir.

Mas principalmente por um motivo: essas conversas mostram que é muito fácil tirar das pessoas boas histórias e sempre alguma sabedoria simplesmente estando presente.

Como? Com perguntas honestas, sem mexer no celular e, principalmente, com vontade de ouvir.

(Esse post não é mas pode ser considerado a parte II do “De quando o melhor programa da TV foi feito para o rádio”)

Entrevista com o fotógrafo Guillermo Riveros

Nascido em Bogotá, o fotógrafo Guillermo Riveros tem feito cada vez mais sucesso agora que mora em Nova York. Ele é o objeto de todo o seu trabalho, encarnando vários personagens. Gay assumido desde os 15 anos, ele acha o máximo que as pessoas se sintam inspiradas por suas imagens tanto para escrever poesias quanto para masturbação. Eu o entrevistei pro blog Oi Tudo em Cima. Lá está tudo traduzidinho, editado e cheio de links. Aqui está a versão original da conversa, perdoe qualquer deslize meu na língua inglesa.

When you decided to leave Colombia and go to New York?
I moved to New York in the summer of 2007.

And how did New York changed you and your work?
New York has been a great influence for me; on one hand its rhythm has definitely changed my creative process. This city is also extremely vibrant and filled with millions of different people that are very inspiring when creating characters. The availability of material has also influenced the way I work and the possibilities for creation. In Colombia things are harder to find and its complicated to go out on the street and shoot anywhere. Here in New York there are very few limits.


What others photographers you admire?
There are many artists I admire. Some photographers I can think of right now are Juergen Teller, Anthony Goicolea, Cindy Sherman, John Bidgood,Slava Mogutin, Nikki S. Lee and Claude Cahun. I love Bruce LaBruce’s punk attitude, and his sense of humour, I think he is a unique mind, and the success of his images and movies come from being a very verbal and funny person. A sort of rebellious intellectual. He has influenced a lot of my ideas about pornography and art; he started a queer punk zine, called “J.D’s” in the late 80’s, that between queer music reviews and top hit lists, the lesbian Tom-of-Finland-inspired drawings of G.B Jones, LaBruce’s stories, wanted to antagonize both the gay subcultures and the punk movement. He is one of the most significant and prolific queer artists of the past decades, he has been a huge influence for me since I started working with pornography and queer culture. I’ve been thinking lately about him and the motivations behind pornographic art and how this reflects in queer identities in the age of the internet. From home made porn to facebook profile pictures, flickr, myspace and other world wide web concessionaire/open diary type platforms, where a lot of queer identities are produced and reproduced constantly: the notions of self production, representation and – why not? – self “pornographication” become instantly noticeable and open up the arena for the discussion of bodies that are exposed and observed, in a virtual world where the boundaries of private and public are pretty much invisible.


And what about movies or books? What influences your work?
This is always a hard question. Above all I have to say that one of my favorite movies and books is “The Exorcist”. Aside from that one, Its easier for me to think of directors I love, Pedro Almodovar, David Lynch and John Waters have been huge influences for me. Books, many, authors like Michel Foucault and Judith Butler. I’m currently reading Georges Bataille’s “Visions of Excess” and Julia Kristeva’s “The Powers of Horror”.

You’re working on promoting new sets of smaller prints for more affordable prices, is that correct?
Yeah, thinking about the economic situation I want to make some smaller prints at affordable prices to make my work actually more approachable. I’m currently working all the specifics, if anybody is interested in getting more information join my mailing list by emailing mailinglist@guillermoriveros.com and check my website for updates soon!

Can’t you say anything more than that?
Its Images from the series “Sigh Oh Nara!”, a couple of them are alternative versions to the images you have seen on my website (just to spice it up a notch!) This will be editioned and signed packs of 5 4″x6″ prints packed in handmade custom packaging…

Have you ever been to Brazil? What’s your impressions of us?
I have never been to Brazil, but I’m dying to go there. There are so many Brazilian things I love: my friends, the music (I’ve been listening to the likes of Marisa Monte and Fernanda Abreu since I was a kid), off course the language (the music has always made me to want to learn Portuguese, which shouldn’t be so hard considering how close it is to Spanish). I also love Brazilian food, I could eat muqueca and brigadeiro everyday!

Entrevista com Márcia Tiburi

Márcia Tiburi é graduada em filosofia e artes e mestre e doutora em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escreveu vários livros de filosofia e recentemente lançou o livro “A Mulher de Costas”, segundo romance da Trilogia Íntima. A primeira parte, “Magnólia”, foi finalista do prêmio de literatura Jabuti em 2006. É também professora, colunista de revistas e integrante do programa “Saia Justa”, do canal GNT. Foi uma entrevista recheada de gesticulação, sinergia, risos e palavras difíceis. Não difíceis daquelas que ninguém sabe o significado, mas daquelas que deixam a fala bonita. Das que me deixavam em dúvida entre admirar a inteligência dela ou me envergonhar da minha ignorância.

P: Os dois primeiros volumes da trilogia falam sobre mulheres. Qual a diferença? Do que se tratam os livros?
R: “Magnólia” é a história de uma mulher que se encontra com ela mesma. E isso acontece, por exemplo, se olhando no espelho, talvez descobrindo uma memória perdida ou tendo que enfrentar seus próprios botões. Enfim, você enfrenta algo que é a sua própria fantasmagoria. É um romance um pouco solipsista, de auto-encontro com aquilo que o sujeito tem de enganação de si. Pois ele é o que ele é, o que ele não sabe que é e o que ele não é. Então há esse jogo de descoberta do dentro e do fora, por um personagem. E “A Mulher de Costas” é uma história de uma mulher que se encontra consigo mesma, que ao invés de se enfrentar com um espelho se enfrenta com um deserto. Enquanto “Magnólia” fica dentro de casa, abre uma gaveta e faz uma viagem pelo jardim pra depois poder voltar – e atravessar com isso vários infernos –, “A Mulher de Costas” é uma mulher que simplesmente faz uma travessia de um deserto para outro deserto. É a história de uma princesa moura encantada, que faz parte da mitologia gaúcha, que é a lenda da salamanca do Jarau, que eu conto da minha maneira.

P: E porque Trilogia Íntima?
Eu comecei a escrever essas histórias todas ao mesmo tempo, tanto “Magnólia”, “A Mulher de Costas” e “O Manto” – que ainda estou escrevendo. E “íntimo” pois queria falar desse solipsismo, dessa convivência e auto-experimentação. O íntimo é essa convivência. A busca solitária e a descoberta. Mas acho que o que tem de meu, tem de universal. As pessoas que leram e me deram retorno, conseguiram entrar nessa viagem. Pois não é uma viagem minha que eu dou a elas, mas uma proporcionada aos leitores através dos personagens.

P: São histórias independentes, porque estão na mesma trilogia?
R: Sim, são livros independentes, mas estão interconectados, há integração entre eles. O que não tem é uma linearidade. Não há uma cronologia que explica “Magnólia” como primeira história e supostamente uma tese, aí “A Mulher de Costas” como antítese e depois “O Manto” como uma síntese. É o contrário! O que tem de comum entre as três é essa experiência de entrega ao mesmo e ao outro e a tentativa de compreensão dessa Banda de Möbius, desses dois lados de uma mesma moeda – onde cada lado é um lado mas compõem um mesmo elemento. Relato ou novela não é uma coisa que eu estou atrás de fazer. Respeito quem faz, claro, mas não é o que eu faço.

P: E a sua filosofia está aparecendo nesses romances?
R: Acho que é a linguagem que aparece na literatura. A filosofia está incorporada em mim e faz parte do meu vocabulário e as questões que estão entranhadas, visceradas, também. Mas eu não tenho um projeto literário à base da razão, ao contrário, eu me interesso por tudo aquilo que foi catalogado por todos os gêneros da literatura. Eu acho que o exercício literário é a sua chance de esquizofrenia (risos). Esquizofrenia para o bem!

P: Como é escrever sobre filosofia atualmente?
R: A filosofia se tornou importante no Brasil, que está aprendendo a democracia. Na ditadura não havia espaço para pensamento livre e é natural que agora a filosofia entre na moda. E tomara que de fato as pessoas se envolvam em reflexões críticas na política, no cotidiano, na responsabilidade ética.

P: Mas há espaço para ela no mundo da informação instantânea?
R: A atenção no próprio pensamento nos torna filósofos do mundo da informação instantânea. O que a filosofia deve fazer é recolocar a atenção que nos é arrancada pelos meios de comunicação no lugar dessa atenção. E, ao meu ver, também mostrar como é o olhar vagaroso sobre as coisas.

P: Você acha que a filosofia está mais acessível às pessoas?
R: Há sim uma vontade das editoras, dos meios de comunicação, da própria esfera culta da sociedade, talvez de uma classe média um pouco mais esclarecida que gosta de cinema e literatura e vai gostar também de filosofia. Mas ainda não dá pra fazer muita festa porque o trabalhador explorado, além de estar excluído do jornal ou da internet, não tem dinheiro para livro nenhum e não está lendo nada. Mas há sim uma vontade de abertura à filosofia por parte das classes lúcidas, que tenta recolocar parâmetros e rever posicionamentos práticos.

P: Como tem sido a resposta para a tentativa de levar filosofia para a TV, com o “Saia Justa”?
R: Um pouco de informação erudita sempre é possível. E esse programa tem um formato, em si mesmo, filosófico. Pois ele é um fórum de mulheres emitindo opiniões. Mais ou menos fundamentadas. É isso que me anima em fazer esse programa: são pessoas diferentes que se propõem a conversar em torno de temas tentando construir um diálogo. Acho que as mulheres foram proibidas de falar ao longo da história da humanidade, então vejo esse programa como um oásis no seio da sociedade patriarcal.

P: O programa é muito criticado por falar demais de sexo…
R: É um programa de TV com todos os defeitos que os programas de TV têm. Mas é que no Brasil se faz muito sexo, há muita pornografia, mas na hora de falar sério sobre o assunto parece que você está cometendo uma heresia. Educação sexual, por exemplo, no Brasil é inexistente. Mas a gente discute também esse cinismo que a gente vive. Sobre política, questões de ética – no sentido de comportamento. Mas é um programa de fala aberta então há muita interferência. E a TV, pela falta de tempo e necessidade de linearidade, limita muito.

P: É verdade que você está escrevendo uma autobiografia tem dez anos?
R: Sim. Começou como um romance em 1998 e eu escrevo e reescrevo, reescrevo. Por que o mais difícil é reconstruir a memória de sua infância. Aliás, se tem alguma coisa boa de se falar da vida de alguém, a meu ver, é a infância, pois o resto é a vida besta de todo mundo. A vida minha e sua que diferença vai ter? Que grandes feitos são tão importantes na vida de alguém para que ele acha que pode contar? Não sei. Mas é que minha vontade é de conseguir memórias perdidas do tempo em que a vida era pura poesia. E no lembrar você vai imaginando coisas, mas eu me divirto com o descortinar desse passado.

Quem quiser ler/ver a entrevista na íntegra é só me perguntar quando vai ao ar ou me pedir um exemplar do jornal 🙂