Empresas que não gostam de LGBT+ não merecem nosso dinheiro

naacp
Protesto anti racismo da NAACP (National Association for the Advancement of Colored People) em 1960: “Não compre de lugares que não te contratariam”

Tem muitas marcas se posicionando sobre casamento entre pessoas do mesmo gênero e sobre a criminalização da LGBTfobia. Mas é complicado saber, daqui de longe, quais estão apoiando por acreditarem ou apenas para pagarem de boazinhas. Nem sempre dá pra saber se aquela marca tem mesmo uma política inclusiva, ações afirmativas e ações punitivas para comportamentos de preconceito.

Mas o que dá pra saber com certeza, mesmo de fora, é quem são as empresas que não estão nem aí pra essas causas. E meu dinheiro é muito importante para eu entregá-lo para alguém que está contra mim. O boicote é nossa principal (e, muitas vezes, única) arma contra quem não nos valoriza. Cansado de só falar disso em mesas de bar, listei alguns casos aqui e vou adicionando na medida que descobrir mais coisas.

Última atualização: 08/08/2020

Barilla

Captura de Tela 2014-11-07 às 11.51.41Guido Barilla, o presidente da marca de massas, declarou que não terá famílias gays nos comerciais de seus produtos e que quem tiver alguma coisa contra essa decisão deveria comer produtos de outra marca. Combinado! (link) Dois meses depois das ameaças de boicote internacional, ele voltou atrás e disse que estava aberto a conversar com líderes de movimentos LGBT+ e a empresa anunciou algumas mudanças na política de diversidade (link), mas né? Tem muita marca de macarrão no mundo, é fácil comer de outra.

Nivea

Captura de Tela 2019-07-11 às 12.18.31A FCB, uma das maiores agências de publicidade do mundo, estava em uma teleconferência sobre uma nova campanha da marca Nivea e na proposta para a linha de cuidados masculinos, uma das propagandas incluía um casal gay – apenas tocando as mãos. Como feedback, um executivo da empresa teria dito durante esta reunião: “Nós não trabalhamos com gays na Nivea”. Por conta do comentário homofóbico (que desrespeitou, inclusive, os funcionários gays presentes na reunião) a agência encerrou seu contrato com a marca. (fonte)

Cinemark

Captura de Tela 2014-11-07 às 11.52.19Lembra da Prop 8? Era uma emenda que seria feita na California para voltar atrás e proibir casamentos gays por lá. Seria a primeira vez que iam alterar leis para tirar direitos de alguém! As campanhas contra e a favor dela foram enormes na época (2008) e Alan Stock, CEO da empresa, doou um bom dinheirinho para a campanha pelo “sim”, ou seja, contra os gays. Apesar da pressão da mídia e da ameaça de boicote, o Cinemark não se pronunciou sobre isso, justificando que “não seria apropriado que a empresa tentasse influenciar seus funcionários sobre questões fora do ambiente de trabalho” (link). O que mais me irrita na questão do Cinemark é a hipocrisia de ter esse posicionamento mas não ter problema nenhum em encher o bolso de dinheiro exibindo “Milk”, “Brockeback Mountain” e vários outros filmes que pregam a tolerância ou falam de preconceito.

Centauro

logoO mineiro Sebastião Bomfim Filho, dono da rede de artigos esportivos – uma das maiores varejistas do Brasil – disse, de dentro de seu apartamento no bairro Jardins, que acha melhor seus amigos de golfe já irem se acostumando: “Em outubro, vou de Bolsonaro. Está decidido”, afirmou, sobre seu voto nas próximas eleições ir para um candidato racista, misógino, homofóbico e machista (fonte). Depois que o governo Bolsonaro começou a dar muito mais errado do que era previsto, os empresários começaram a pular fora do barco (fonte), mas já era tarde demais. Além disso, Sebastião faz parte do grupo de WhatsApp investigado no inquérito das fake news (fonte). Lembrando que Bomfim também é dono da By Tennis e tem as licenças das lojas da Nike no Brasil (fonte).

Domino’s

Captura de Tela 2014-11-07 às 11.53.39O fundador da pizzaria, Tom Monaghan, contribui financeiramente para organizações que se opõem aos direitos LGBT. O presidente do conselho da empresa, David Brandon, também é pessoalmente contra casamento gay. E o CEO atual, Patrick Doyle, faz doações financeiras regulares para causas de direita e republicanas, tradicionalmente anti-gays (link). Aqui é mais a posição pessoal dos caras do que política da empresa, mas eu não quero meu dinheiro indo pra essa galera.

Smart Fit

sfEdgard Corona, dono das academias Smart Fit, é um dos alvos da operação da Polícia Federal no inquérito das fake news comandadas pelo grupo de empresários “Brasil 200”. O grupo foi criado por Flávio Rocha, dono da Riachuelo, para combater a PEC 45, um projeto de reforma tributária. Também fazem parte do grupo os donos da Havan e da Centauro. O episódio que levou o grupo de WhatsApp desses empresário à investigação, foi uma mensagem de Corona dizendo aos outros membros que precisava de dinheiro para investir em marketing e impulsionar vídeos de ataque a Rodrigo Maia, com informações falsas (fonte). A notícia de que o dono da rede de academias financiava fake news, fez muitos alunos cancelaram suas matrículas (fonte). Isso tudo além, claro, da famosa aula de PUMP NAZISTA (aqui).

Madero

maderoO empresário Junior Durski, dono da rede de hamburguerias Madero, publicou vídeo defendendo o presidente Jair Bolsonaro, notoriamente contra LGBT+, minorias raciais e mulheres. “Estou 100% com ele. Tenho muito orgulho de ter votado nele. Bolsonaro está fazendo tudo certo, está mostrando a que veio, com muita força e determinação”. Ele afirmou que já foi às ruas para defender o presidente, que irá de novo, e convocou seus seguidores a participarem de manifestações contra o Congresso. Durski é sócio do apresentador Luciano Huck. [fonte]

Exército da Salvação (The Salvation Army)

Captura de Tela 2014-11-07 às 11.54.34Por trás dessa organização sem fins lucrativos existe, na verdade, uma igreja evangélica (link). E, por isso, ela se acha “isenta da discussão”, já que lhes é permitido que preguem o fim dos LGBT+ e que eles podem se curar etc. A organização foi uma das protegidas do governo Bush e, segundo funcionários, apesar de não discriminar pessoas na hora de fazer suas doações, ela é bem taxativa na hora de fazer contratações: funcionários gays não têm lugar.

Sérgio K

skA marca de roupas criou estampas para a Copa do Mundo de 2014 indicando que certos jogadores famosos eram gays (link). Apesar desse tipo de xingamento ser comum no futebol, não podemos aceitar nunca que passem isso pra frente. É ofensivo: ser gay não torna ninguém menos capaz ou inferior. Além disso, a marca criou blusas para a campanha de Aécio Neves (link), candidato de direita que prometeu nas redes sociais “acompanhar com neutralidade as discussões sobre criminalização da homofobia” (ou seja, prometeu fazer NADA) e que tinha Malafaia e Bolsonaro apoiando sua candidatura. E qualquer um que tá junto desses dois está contra você.

Lojas Havan

Logo_Lojas_HavanOutra marca notavelmente a favor do Bolsonaro. Mas a situação fica pior: o dono da rede, Luciano Hang, resolveu constranger seus empregados, os obrigando a usar uma camiseta de seu candidato e a ficarem pelo menos 22 minutos o ouvindo falar sobre seu voto. No meio de seu discurso, pareceu ainda coagir os funcionários a votar em Jair Bolsonaro em troca da permanência no emprego. “Você está preparado para sair da Havan? Você que sonha em ser líder, gerente, e crescer com a Havan, você já imaginou que tudo isso pode acabar no dia 7 de outubro?”, disse ele para a plateia, bem pouco entusiasmada. Além disso, Luciano faz parte do grupo de WhatsApp “Brasil 200”, investigado pela Polícia Federal por financiar a propagação de fake news contra adversários do governo Bolsonaro. [fonte 1] [fonte 2] [fonte 3] [fonte 4] [fonte 5]

Riachuelo

1.jpgApesar de várias coleções com frases e personagens para agradar consumidores LGBT+, as coisas são diferentes do lado de dentro. A empresa, que nunca traz LGBT+ em suas campanhas publicitárias, tem como presidente Flávio Rocha. Ele frequenta a igreja protestante Sara Nossa Terra e, segundo sua esposa, “é uma pessoa que tem muita fé, e a gente segue os princípios voltados para a família e para a Bíblia.” Apesar de negar ser homofóbico, na hora de buscar apoio para a candidatura à presidência, correu para o MBL e gritou para todo lado sua posição contrária à descriminalização do aborto e à promoção de direitos LGBT+, como o casamento homoafetivo. Jair Bolsonaro sinalizou que adoraria tê-lo como vice, mas Rocha diz não ter aceitado por Bolsonaro ter visões “de esquerda sobre a economia”, o que confirma que ele está de acordo com as demais posições do político citado. Além disso, foi Flávio quem criou o grupo de WhatsApp “Brasil 200”, que financiava o disparo de fake news contra adversário do governo Bolsonaro. [link] [link 2] [link 3]

Victor Vicenzza

vvcO designer Victor Vicenzza, dono da marca de sapatos do mesmo nome, passou a seguir e curtir publicações de Jair Bolsonaro (PSL) em sua conta no Instagram. O caso repercutiu na internet e, inclusive, motivou a cantora Pabllo Vittar a romper relações com a grife: “Deixo meu agradecimento de apoio até agora, mas não poderia aliar meu trabalho a um discurso que deixa claro não se importar com os diretos humanos de toda comunidade LGBTQIA+, da qual faço parte”, escreveu. De frente à polêmica, a marca emitiu um comunicado reiterando o apoio político de seu dono ao candidato, abertamente homofóbico, racista e misógino – o que mostra que a empresa quer nosso dinheiro, mas não nossa integridade física, já que apoia um candidato que quer, literalmente, nos matar. (link)

Coco Bambu

Screen Shot 2018-09-25 at 08.24.53A rede de restaurantes, especializada em frutos do mar, tem como sócios Eugênio Veras Vieira e Afrânio Barreira Filho. De acordo com informações disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os caras doaram R$40 mil para a campanha do candidato à presidência Jair Bolsonaro. Se você é LGBT+, mulher ou negro, sugiro comer seus frutos do mar em um restaurante que não apoie um candidato que te trata como lixo. (fonte) Mesmo depois de comprovar e assistir a péssima gestão de Bolsonaro, o restaurante manteve seu apoio: no dia que o Brasil chegou ao marco de 100 mil mortos por Covid, o restaurante homenageou o presidente machista, homofóbico e fascista com um jantar na Alvorada (fonte).

Supermercado Hirota

Screen Shot 2018-06-25 at 10.27.41No último ano, o mercado distribuiu uma cartilha que condena a união entre pessoas do mesmo sexo e diz que gays são “distorções da criação”. “O casamento homoafetivo está na contramão do propósito divido e não pode cumprir o seu propósito. A relação conjugal entre homem e homem e mulher e mulher é antinatural, é um erro, uma paixão infame, uma distorção da criação”, dizia parte do texto. O material, que também trazia mensagens sobre vários outros assuntos, foi escrito pelo pastor Hernandes Dias Lopes, da Igreja Presbiteriana, que o vendeu ao mercado, que decidiu pagar pela tiragem de 10 mil exemplares. Em comunicado oficial, após a polêmica nas redes, protestos nas lojas e ameaças de boicote, o Hirota disse não ter intenção de ofender ou discriminar qualquer forma de amor. Sei. [fonte]

Supermercados Condor

Screen Shot 2018-10-06 at 11.47.47Outro caso parecido com o da Havan: foi divulgado um vídeo em que seu presidente, Pedro Joanir Zonta, declara apoio a Jair Bolsonaro como candidato à presidência e pede que seus funcionários “confiem em mim e nele para colocar o Brasil no rumo certo”. Para a procuradora regional eleitoral responsável pelo caso, há uma “clara ofensiva ao direito de escolha desses empregados”. O funcionário pode ficar com medo de perder o emprego ou sofrer retaliações caso não siga a orientação do empregador. Tem vários outros mercados pra gente ir, galera. [fonte]

PanVel Farmácias

panvelJulio Mottin Neto, CEO da rede de farmácias Panvel, do Grupo Dimed, foi comemorar no Twitter a decisão de Jean Wyllys deixar o país devido às sérias e constantes ameaças de morte que vem recebendo. Ele tweetou citando o político nominalmente, dizendo que ele não fará falta por aqui. Quando você representa uma empresa, você fala por ela. E não acho que seja motivo para comemoração um deputado eleito democraticamente, o único até então abertamente LGBT+, deixar seu cargo com medo de morrer. O caso foi polêmico e fez Mottin até deletar sua conta no Twitter – mas a gente viu, fez print e não vai comprar mais nada lá. [fonte] [fonte] [fonte]

Festival Coachella

coachella-feature-2Nossa, muito legal o showzinho da Beyoncé –  e de outros artistas feministas e LGBT+ no festival -, mas o dono do evento é Philip Anschutz, um bilionário de 78 anos que investe boa parte do seu dinheiro em políticas conservadoras. Depois de virem a público suas doações para organizações como Alliance Defending Freedom e Family Research Council, amplamente divulgadas por serem anti-LGBT+, Anschutz disse que seu objetivo nunca foi apoiar a desigualdade. Mas, só em 2017, receberam dinheiro do dono do Coachella pessoas como Cory Gardner, senador do Colorado que defende o porte de armas, e Scott Tipton, congressista do Colorado que é contra aborto e casamentos entre pessoas do mesmo sexo; entre outros. [link]

Qualquer coisa russa

Putin, presidente do país, assinou um projeto de lei anti-gay, classificando “propaganda homossexual” como pornografia. A lei é ampla e vaga, de modo que qualquer professor que diz aos alunos que a homossexualidade não é errado pode ser preso. Mais de 70 pessoas foram presas por lá indo para um show da Madonna! Aliás, quando ela se pronunciou contra essa lei no palco, saiu do país com uma multa de 1 milhão de dólares nas costas. Nem mesmo um juiz, advogado ou legislador podem discutir publicamente sobre tolerância sem ameaça de punição. Como resposta, várias pessoas tem estimulado boicote a q-u-a-l-q-u-e-r produto importado da Rússia. (link) (link)

Sabe de alguma outra empresa que não tem sido muito legal com direitos gays? Tem algum link que prove que essas empresas acima mudaram suas políticas? Deixa aí nos comentários.

Não sou nem curto afeminados

Fiquei alguns dias organizando as ideias desse texto – era algo que queria muito escrever sobre. Com o tal beijo gay no capítulo final da novela “Amor à Vida”, achei apropriado publicar e adicionar o assunto a ele. Imagino que as palavras abaixo estejam cheias de erros técnicos – não sou estudioso de psicologia e sexualidade -, mas acho que meus achismos valem um pouco, então aí estão eles :}

O que é ser gay?
Antes de tudo, qual é o núcleo da homossexualidade? Se sentir atraído por um indivíduo do mesmo gênero que o seu. Todo o resto é comentário.

“Se o cara se veste de mulher mas tem tesão em mulheres, é hétero? Se ele transa com mulheres mas pensa em homens durante o sexo, é gay?”. Pra mim, tudo isso ainda é comentário, cada caso tem suas particularidades. Mas o que importa nesse ponto é o conceito frio de ser gay, que é esse: se sentir atraído pelo mesmo sexo. Fim.

Inclusive deu praticamente isso na pequena enquete que fiz no meu Facebook.

enquete

Gosto muito da resposta sobre identidade social: um médico é um médico, um médico que é gay é um médico-gay. O “um” sempre acaba representando o grupo todo. Que perigo.

“Ser gay não é só se sentir atraído pelo mesmo sexo”, me dizem sempre, “é mais que isso, é um posicionamento, uma identidade, um estilo de vida”. Ok, quais? Nessa hora os que não fogem da pergunta respondem sempre coisas diferentes…

O que é a cultura gay?
O conceito da Cultura LGBT é fácil: é a cultura comum e partilhada por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Ok, mas e aí? O que há de comum entre todos os gays além de que eles são gays?

Bom, se eu te perguntar qual é a cultura de Minas Gerais, o meu estado, é capaz de alguém responder na ponta da língua: pão de queijo, Aleijadinho, Carlos Drummond de Andrade. Isso significa que todo mineiro gosta e conhece todas essas coisas? Claro que não. É um estado muito grande pra generalizar todos dentro desses três itens – há muito mais na cultura de Minas.

É a mesma coisa. Ser gay é “só uma das” característica da pessoa, ela não necessariamente compartilha interesses e características com todo o grupo além dessa. Já até escrevi nesse blog sobre gays que não apoiam o casamento gay! É difícil rotular a cultura gay: qualquer item que você usar (um comportamento, uma roupa, um representante) vai ter alguém pra gritar: “ei, eu discordo!”.

eita2
“Aqui é Parada Gay, não a Parada Lady Gaga. Ela não é uma representante para nós. Ela não é lésbica, ela não é gay. Só gostar da gente não te faz parte do nosso grupo. Você é uma mulher hétero, você não sabe nada sobre bullying. Você não sabe o que a gente passa.” Hum, será?

Esse gigantesco grupo que chamam de “gays” é cheio de sub-grupos. Barbies, ursos, emos, poc-pocs, indies, modernos, dykes, tuchas, sapatilhas, mini-lésbicas e caminhoneiras são apenas alguns deles. Por mais plural que isso pareça, cada grupo pode ser muito fechado, o que causa um certo estranhamento.

Não é difícil ver gays falando mal de lésbicas ou de outros gays. Produtos midiáticos (novelas, séries, filmes, livros) acabam sendo propagandas que vendem estilos de vida e não é impossível conhecer negros homofóbicos, lésbicas racistas, gays machistas. Triste, mas é verdade.

E aí que entra todo o straight acting
Dentro do meio gay há um grupo de pessoas que gosta de se rotular “st8 acting”. São gays que se dizem “não parecer gays”. Em teoria, agem como héteros. Já conversei com alguns e eles geralmente citam coisas como “não gosto de boate, não gosto de Madonna, não falo fino, não desmunheco, malho, assisto futebol, bebo cerveja”. Coisas assim. Eles acreditam, mais do que ninguém, no pacotinho que esses produtos midiáticos rotularam como “gay”.

Quando mudei pra São Paulo e falava que era mineiro, muitos exclamavam: “Nossa, mas você não parece mineiro!”. E parecia que estavam no aguardo de um agradecimento meu. É um elogio falar a alguém que ele não parece ser algo que ele é? Como é um mineiro, gente, me digam?

Agora: como é um gay, gente, me diz?

gays
Quando alguém usa a palavra “gay” em quê você pensa? Resposta certa: não há resposta certa

O que há por trás dessa galerinha que se acha superior por não parecer gay é essa imagem aí em cima. O que chega da comunidade gay para fora dela não representa todos. NUNCA REPRESENTARÁ. E existe um medo até compreensível de que os outros vão achar que sou algo que não sou. Eles realmente acham que “todo gay curte boate”, por exemplo. “Logo, se eu não curto, não sou tão gay assim”. Ahm?!

O que é empacotado como “gay” e vendido para não-gays não representará todo o grupo, mesmo que seja numa série como “Looking” ou numa novela com beijo gay no final. Em uma carta aberta aos humoristas brasileiros, Alex Castro escreveu:

Quando uma pessoa gay é agredida com uma lâmpada na Av. Paulista, a equipe de criação do Zorra Total não pode levantar as mãos e se declarar inocentes. E nem quem assiste e ri. (fonte)

Eles está coberto de razão nesse ponto. E esses gays que rejeitam rótulos são tão vítimas desse tipo de coisa quanto todos os outros – têm medo de ter sua imagem associada aos pacotinhos e, temendo a ignorância alheia, agem como ignorantes.

Mas calma, talvez essas pessoas que se acham “menos gays” não achem isso por causa da mídia, mas se baseiam é nos gays ao seu redor mesmo, nos homossexuais que eles conhecem. Hum…

O que fazer se eu sou um gay “não-afeminado” então?
Bom, meu amigo, a primeira coisa é parar de se achar superior. Como aprendemos no primeiro item desse texto, se gosta de gente do mesmo sexo é gay e fim. Agir como hétero não te faz menos gay por definição. Talvez deixe sua vida mais fluida, menos caótica (pois atrai menos olhares julgadores e, assim, corre menos risco de levar surra de lâmpada na cara ou de canos enfiados na sua perna ou de Bíblia), mas não te torna menos gay.

A segunda coisa que você precisa fazer é SAIR DO ARMÁRIO PRA TODO MUNDO (e aqui tem umas dicas). Se você não gosta da imagem que as pessoas têm dos gays é responsabilidade sua mostrar que existem vários tipos de gays no mundo. Não tem nada que exija mais coragem de um homem do que ele viver sua verdade todos os dias o dia todo. Mas não esqueça que quando alguém falar “nossa, você nem parece gay!” isso não é um elogio.

Ser gay e querer ser menos gay é, com certeza, um problema. Mas não tem problema apenas discordar de algo que a então chamada cultura gay “impõe”. Eu não baixei o novo episódio de “Glee”, mas durmo tranquilo. Ninguém vai caçar minha carteirinha de gay por isso.

E no caso das vítimas desse preconceito bobo, os gays afeminados, cabem a eles também mostrar que são mais do que apenas isso. Cada um vai descobrir seu jeito de mostrar como.

Beijo gay pode sim, mas tem um porém
A importância de um beijo gay na novela é qual? Já teve beijo gay em tantos filmes, programas e séries…

Mas meus avós não baixam série, não têm TV a cabo, não vão ao cinema. (…) Se ele [meu avô] achou um absurdo, uma pouca vergonha, ou normal, ou bonito, ou diferente, a verdade é que ele viu para poder achar. Ele pôde ver. Contra a vontade ou não. Mas viu algo que faz parte da sociedade, mas que não fazia parte da casa dele. Um beijo gay na sala de estar da casa dos meus avós? Impossível. Até ontem. Se a Globo mostrou isso pros meus avós foi porque já não dava mais para esconder. (fonte)

É isso.

Claro que o ideal é um beijo entre gays ser chamado apenas de beijo (ninguém fala que no filme tem um “beijo negro”, né?), mas esse capítulo final de “Amor à Vida” foi, definitivamente, um começo. A estrada tá aí pra ser percorrida.

_matisyahu_detail_image
O tal beijo gay: não vale reclamar que foi fraco. Mas vale perguntar: quando chamaremos apenas de beijo?

O problema é que foi o primeiro e, pra amenizar, foi preciso reforçar umas ideias polêmicas. Afinal, a vida é linda quando você é um gay forte, branco, bonito e rico, mas essa não é a realidade de muitos. Verdade, mas lembra o que falei antes? O que chega da comunidade gay para fora dela não representará nunca todos (especialmente se quem está escrevendo, atuando e transmitindo não é, “em essência”, gay). Você pode ter um programa de sucesso como “Cosby”, “Everybody Hates Chris” ou “My Wife and Kids” no horário nobre por várias temporadas, mas não pode dizer que esses programas “representam toda a comunidade negra”. É a mesma coisa aqui.

Não se chega a lugar nenhum respeitando de cabeça baixa uma cultura que te oprime. Mas, por mais heteronormativo que tenha sido o fim dos personagens da novela, temos que começar de algum lugar, certo?

Não somos uma minoria. Somos?
Sabe o que é mais legal do que fazer todo mundo ver um gay se beijar? É fazer todo mundo parar com essa palhaçada de tratar gays como marginais.

Quando dizem que negros ou mulheres ou gays são minoria, não querem dizer em quantidade no mundo. Mas sim em representatividade política. Mudanças profundas na sociedade são lentas, podem começar na novelinha, mas podem ser bem aceleradas se tivermos, no poder, políticos que lutem pelas causas gays. Pense nisso nas próximas eleições e fique de olho nos vira-folha que prometem uma coisa para os eleitores gays e exatamente o contrário para os eleitores evangélicos, por exemplo.

3
Jean Wyllys: eleito em 2010 para mandato de deputado federal; Harvey Milk: primeiro homem abertamente gay a ser eleito a um cargo público na Califórnia, como supervisor da cidade de São Francisco; Amanda Simpson: uma das primeiras transexuais a integrar o governo federal dos EUA, no Departamento de Comércio.

Resposta genética?
Inclusive pois acredita-se muito que a formação de sua identidade sexual tem a ver com a cultura ao seu redor, ao tipo de coisa que você é exposto, ao tratamento recebido pelos seus pais. Mas, nos últimos anos, pesquisadores começaram a apontar que a formação da sexualidade acontece antes do nascimento – em parte pelos genes, mas também por fatores que atuam no desenvolvimento do feto. Ainda falta muito a ser desvendado, mas as evidências estão causando uma revolução no pensamento científico. E, se comprovadas, poderão subverter simplesmente todas as noções básicas que a sociedade atual construiu ao redor dos gays. (fonte)

tumblr_lri1x1TmCD1qzi8igo1_500
“Meu nome é Brock, tenho 7 anos de idade, e me considero do tipo diva”

Homofóbicos e religiosos homofóbicos gostam muito de argumentar que o mundo nunca teve tanto gay antes, pois agora estamos tratando “essa doença como algo normal”. Mas é justamente o contrário. É impossível ter dados técnicos, mas eu apostaria que o número de gays hoje e em 1489 é quase o mesmo, mas agora as pessoas se sentem confortáveis para serem elas mesmas.

Quem são os homofóbicos? Alguns estudos indicam que são pessoas conservadoras, rígidas, favoráveis à manutenção dos papéis sexuais tradicionais. (…) A homofobia reforça a frágil heterossexualidade de muitos homens. Ela é, então, um mecanismo de defesa psíquica, uma estratégia para evitar o reconhecimento de uma parte inaceitável de si.

Dirigir a própria agressividade contra os homossexuais é um modo de exteriorizar o conflito e torná-lo suportável. E pode ter também uma função social: um heterossexual exprime seus preconceitos contra os gays para ganhar a aprovação dos outros e aumentar a confiança em si. (Regina Navarro)

E eu com isso?
Quando eu comecei a perceber que gostava de meninos, foi muito dolorido. Não sabia o que era gay ou sexo, me achava uma aberração, achava que era o único assim no mundo. Ter gays em filmes e novelas, mesmo que agindo “como héteros”, já ajuda a naturalizar isso. Essa crescente inclusão de gays nos pacotinhos midiáticos pode (e acredito que vai) ajudar a economizar dor, desgaste familiar e dinheiro em terapia.

Não há nada de errado em ser gay, então não seja um babaca.

Pra quem quiser continuar a reflexão, outros três textos meus:
Gays que gostam de futebol
Pensando com Laerte
Daniela Mercury não me representa

Beijos (na boca ou no ombro, mas beijos)

Sobre política

Dilma, Serra, Marina, Plínio e o cacete. Época de eleição, especialmente as presidenciais, é época de refletir sobre a última gestão, sobre as mudanças que aconteceram e as que queremos que aconteçam. A gente vive num país de merda, onde eu estou aqui, na frente de um computador que eu já acho ultrapassado, enquanto do outro lado da rua tem um cara dormindo no chão, sem casa para voltar, sem dinheiro para comprar comida, sem lugar para tomar banho; famílias inteiras vivendo com metade do meu salário “que não dá pra nada”. A democracia é muito jovem por aqui e vai demorar para nos juntarmos aos peixes graúdos em muitos assuntos.Eu não acho legal viver num país que posa de bacanudo pros gringos enquanto tem gente dentro dele passando fome, acho isso um grave problema de priorização. A pose pode gerar respeito e atrair investimento, mas aplicados da maneira errada, nada muda aqui dentro de verdade. Uma coisa que não muda mesmo, por exemplo, é minha vontade de ir embora. Mas ó, líderes não são perfeitos e as imperfeições dos líderes que escolhemos são reflexos das nossas. Entretanto, não devemos mudar de líder, devemos mostrar a eles que tipo de mudanças queremos deles.

Política é um jogo de ego e de manipulação mental via mídia. O candidato promete um salário mínimo de 5 mil reais, enquanto outro promete gás de cozinha para pobres que nem conhecemos. Por que não votamos no primeiro deles, já que sua proposta é a melhor pra gente? É porque ele é tosco, tem um cenário ruim e uma cara feia. Já aquele que faz promessas menores, as faz com mais convicção, num cenário limpo, lindo e iluminado, e as imprime em folhetos coloridos e com fotos grandes de suas imperfeições de pele mascaradas por programas de computador. É ou não é?

Por que pensar sobre o meio ambiente é coisa do Partido Verde? Por que distribuição de renda é coisa do PT? Por que privatização é coisa do PSDB? Todos são assuntos que interessam a todos e não devemos escolher qual assunto/partido queremos discutir agora. Tudo deve ser levado em consideração o tempo todo. Meu incômodo é que existem pautas que, com a globalização, rodam o mundo. Casamento gay, por exemplo, é o assunto do momento. Mas as vezes me pego pensando que abriria mão dessa luta com um sorriso no rosto se me garantissem afinco verdadeiro em todas as promessas de melhor ensino, menos violência, saneamento básico e energia elétrica aos pobres. Anda não dá para pedir menos homofobia do Seu Zé, um sem educação, no sentido escolar e/ou erudito, criado numa favelona onde “viados” são estrangulados todo dia.

Enfim.

A mentalidade conservadora enfatiza a responsabilidade que temos pelas nossas próprias ações enquanto a liberal nos traz o pensamento de que devemos tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. O erro está, portanto, em jogar cada coisa para um lado, enquanto deveríamos unir essas formas de pensar. Ah, mas não estou falando de candidatos e sim do nosso cotidiano. Enquanto a galera não perceber que o pessoal é o global e que o pessoal é o político, nada anda. Vivemos em comunidade e esse povo maquiado que você vê no palanque vai mudar de discurso assim que for conveniente, te garanto. É a gente que precisa mudar isso daqui – então não jogue sua parte da responsabilidade em cima de uma urna eletrônica.


Ouça depois de ler: Madonna – I’m So Stupid

O voto gay?

Outro dia, li que Dilma Roussef fechou uma parceria com um pastor evangélico, cujo nome não recordo, para assessorar sua campanha direcionado a esse público, que representa 25% dos eleitores. Na proposta, ela assinou embaixo do que foi pedido por ele em contrato: não virão do poder Executivo leis que aceitem o aborto, o casamento gay e a adoção de crianças pelos cidadãos GLBT.

Isso me fez pensar: em assunto político, foi uma boa troca? Quer dizer, não sei quanto dos eleitores é gay, mas o número soma aos héteros favoráveis à causa. Talvez seja maior que esses 25%. De qualquer forma, o treco já foi assinado. O negócio é que ser à favor ou contra não basta para ganhar nem perder meu voto.

Um exemplo? Marta Suplicy, como sexóloga, saía por aí mandando beijos para a comunidade gay, mas foi a primeira a apontar a homossexualidade não-pública de um rival como objeto de chantagem e barganha.

Marina Silva tem algumas das propostas mais interessantes para o meio ambiente, por exemplo, mas já disse que não tem o casamento gay como “correto”, por causa de sua religião, mas que direito civil é direito civil e todo mundo devia tê-los. A declaração causou tanto frisson que abafou o que ela disse depois, e apenas a primeira parte de sua fala tomou os jornais. Portugal tem um presidente católico fervoroso que não teve medo de aprovar o casamento gay declarando aos quatro cantos que achava errado aquilo, mas que era uma questão de dar ao povo o que ele quer.

Acho que faz sentido e que poderia ser caso dela. Se tem gente por aí achando lindo o movimento gay, mas nos bastidores assinando contratos jurando que vai deixá-lo às moscas, talvez o voto em alguém abertamente contra fizesse mais sentido. Olha a que ponto chegamos! Enquanto isso, Serra se diz favorável, não assinou nada com ninguém e, cá entre nós, tem mais know how do que as outras candidatas juntas. Mas dá uma preguiça dele, né?

Só sei que nada vai mudar de verdade com nenhum deles. Casamento gay é uma pauta do momento, mas esse país aqui está longe de não ser preconceituoso – e não é legalizar a união civil que vai fazer isso. Contra, a favor, pouco importa. A lei já existe, é só o Supremo mudar a interpretação.

Semana passada, isso aconteceu na Argentina e ela tornou-se o primeiro país da América Latina onde casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido. Aí, o mesmo portal de internet que escreveu uma matéria ótima sobre o assunto, foi o que linkou o texto com um banner sobre o resultado de um jogo de futebol – numa alusão ao tima perdedor, indiretamente chamado de “viado”. E o melhor: várias pessoas ao redor, as mesmas que não se importam com sua orientação sexual e são super tranquilas e cabeça aberta, foram as primeiras a divulgar o negócio, rindo da piadinha que algum estagiário imbecil fez dentro do site.

Penso que, se hoje legalizassem o casamento gay, adoção de crianças por gays e leis anti homofobia, nada mudaria na minha vida. Não vou comemorar o passo da Argentina enquanto taxistas não pararem porque eu dei sinal de mão dada com meu namorado, enquanto existirem skinheads fazendo ronda na rua Augusta, enquanto todo mundo fizer piadinhas no seu aniversário de 24 anos, enquanto héteros têm vergonha de usar blusa rosa, enquanto os times de futebol perdedores forem xingados de “bicha”, enquanto tem gente com medo de ir para casa sozinho.

O que Jesus faria?

Viu que o site do Senado Federal brasileiro colocou no ar uma enquete sobre gays semana passada? Ela tinha a seguinte pergunta: “Você é a favor do PLC 122/06, que torna crime o preconceito contra homossexuais?”. A iniciativa é da Secretaria de Pesquisas e Opinião Pública (Sepop).

Mas acontece que a enquete esteve alguns dias fora do ar. Aliás, continua fora do ar. O que estão fazendo? “Um aprimoramento do sistema de segurança, dificultando burlas ao sistema”, explicou a própria agência do Senado. Ah, e o motivo disso? Bom, a pergunta já havia recebido mais de 500 mil respostas, com “sim” e “não” se revezando na liderança. Mas especula-se que igrejas cristãs estejam fazendo campanha com suas ovelhas para que o “não” seja o resultado vitorioso da enquete.

Não é querer criar polêmica à toa, mas esse povo não tem noção do que é ser cristão se está fazendo isso. “Amar o próximo como a ti mesmo” não é a maior lição do messias? Pra onde ela foi então? Você pode até achar homossexualidade algo errado, mas daí para votar e fazer campanha pelo “não”? Isso é comungar dos mesmos princípios de skin heads e outros grupos neo-nazistas, por exemplo.

É realmente assim que Jesus iria medir as coisas? Pecadores merecem as pedras que são atiradas a eles? Um comportamento sexual que você não pratica é motivo para que os praticantes sejam xingados na rua e apanhem a qualquer dia e horário? Porque, talvez eles não saibam, mas quem apanha de skin head não são esses gays cariocas fortes que aparecem em propagandas de cueca. São os gays comuns, estudantes, balconistas, publicitários, professores, jornalistas. Gente que está quieto na sua e é (sub)julgado por uma característica que, de maneira alguma, interfere em seu caráter e seus valores.

Não existem heteros bons, ruins, legais, chatos, promíscuos e trabalhadores? Ou mulheres celibatárias, gordas, magras, fofoqueiras ou caladas? O mesmo vale para gays. Toda generalização nivela por baixo um grupo muito grande e com indivíduos muito diferentes entre si. É o mesmo que falar que todo mundo que tem olho verde tem bom caráter.

Conheço vários gays que acreditam em Jesus e que tem um comportamento tão correto que coloca no chinelo muito cristãozinho por aí. A briga cristãos versus gays não vai acabar nunca se seguirmos assim. Agir dessa maneira com gays faz com que eles se afastem mais das igrejas, o que sustenta o argumento delas. É um ciclo sem fim?

Obviamente, as enquetes pela internet não utilizam métodos científicos, apenas colocam os temas em debate e não servirão de base para tomada de decisão. Mas ainda me dá raiva, viu…

UPDATE: A enquete voltou ao ar. Quer votar? Clique aqui!

Algumas considerações sobre vegetarianismo

Estou planejando falar sobre isso há meses, mas não sabia ainda qual caminho seguir. Eu parei de comer carne tem cerca de nove meses e, quando eu ainda comia, detestava quem vinha pra cima de mim com argumentozinhos escrotos e vídeos de animais sendo mortos de forma sangrenta. Do meu ponto de vista, gente que faz isso não tem nada diferente daqueles evangélicos chatos que querem que todo mundo ao redor descubra a palavra de Jesus.

Eu reciclo meu lixo e tenho, diria, o mínimo de preocupação com o meio ambiente, mas posso garantir que dó dos animais não foi o principal motivo da minha decisão. Aconteceu que, mesmo não pensando nisso, começou a ficar cada vez mais complicado pensar de forma separada: um pedaço de carne, no animal ou no meu prato, não passa de um pedaço de carne. A diferença básica é que a do meu prato passou por inúmeros processos de cozimento e foi empanturrada de temperos cheirosos para disfarçar que ela está, veja bem a palavra, apodrecendo. Não há argumento contra isso; tá cortado fora do bicho, já começou a apodrecer. E eu não quero colocar isso dentro do meu corpo, obrigado.

Não comer carne é, para mim, uma opção mais saudável para melhorar meu estilo de vida já tão desregrado com refrigerantes e lanches rápidos. O lado ético veio depois. Quando você para de comer carne você começa a se sentir aquele personagem do filme de suspense que tem certeza que viu os fantasmas, mas ninguém acredita. Será que só eu vejo que o discurso que se usa para justificar a exploração dos animais é o mesmo que, no passado, usamos para defender a escravidão e a desigualdade de direitos entre homens e mulheres?

Além da saúde, não comer carne virou um pequeno protesto, minha maneira de boicotar uma indústria que destrói o meio ambiente e explora, tortura e mata animais – sem contar que parar de comer carne abre todo um questionamento sobre tradição e autoridade. Afinal, trata-se de algo cultural que agora, como ser humano autônomo e pensante, eu posso negar.

Eu adoraria estar cercado de pessoas que pensassem assim, mas não me sinto desconfortável com que não o faz. Mas eu também não quero entrar em discussões com quem não está interessado em ouvir sem pedras nas mãos. Trata-se de uma escolha que deve ser respeitada e, se eu não ajo como superior pra cima de você, espero que não faça o mesmo pra cima de mim. Pelo menos reflita antes.

Para ouvir depois de ler: Meat Is Murder – The Smiths

Campanha contra a homofobia

Acaba de ser lançada a campanha “Não Homofobia”, que busca a aprovação do PLC 122/ 2006 através de um abaixo assinado online.

Trata-se de um projeto que torna crime a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero no Brasil. No caso, o autor do crime será sujeito a pena, reclusão e multa.

Além do apoio de gente como Lázaro Ramos, Letícia Spiller e MV Bill, emissoras como a Sony, MTV, TV Cultura, AXN e Animax começarão a divulgar o vídeo abaixo em breve:

Eu já fui xingado de nomes que vocês não acreditariam e já tentaram me bater na rua mês passado, então posso dizer que, além de necessário, o negócio é sério. Um abaixo assinado faz muito mais barulho que qualquer parada gay.

Clique aqui para assinar e entender o projeto.

Ajude a divulgar!

A Campanha é desenvolvida pelo Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT do Rio de Janeiro em parceria com a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ALGBT) e a Frente Parlamentar Pela Cidadania LGBT no Congresso Nacional. O vídeo foi criado pela Indústria Nacional Design e é assinado pela agência de propaganda Giacometti.

Para ouvir depois de ler: Fuck You – Lily Allen