
Tem muitas marcas se posicionando sobre casamento entre pessoas do mesmo gênero e sobre a criminalização da LGBTfobia. Mas é complicado saber, daqui de longe, quais estão apoiando por acreditarem ou apenas para pagarem de boazinhas. Nem sempre dá pra saber se aquela marca tem mesmo uma política inclusiva, ações afirmativas e ações punitivas para comportamentos de preconceito.
Mas o que dá pra saber com certeza, mesmo de fora, é quem são as empresas que não estão nem aí pra essas causas. E meu dinheiro é muito importante para eu entregá-lo para alguém que está contra mim. O boicote é nossa principal (e, muitas vezes, única) arma contra quem não nos valoriza. Cansado de só falar disso em mesas de bar, listei alguns casos aqui e vou adicionando na medida que descobrir mais coisas.
Última atualização: 08/08/2020
Barilla
Guido Barilla, o presidente da marca de massas, declarou que não terá famílias gays nos comerciais de seus produtos e que quem tiver alguma coisa contra essa decisão deveria comer produtos de outra marca. Combinado! (link) Dois meses depois das ameaças de boicote internacional, ele voltou atrás e disse que estava aberto a conversar com líderes de movimentos LGBT+ e a empresa anunciou algumas mudanças na política de diversidade (link), mas né? Tem muita marca de macarrão no mundo, é fácil comer de outra.
Nivea
A FCB, uma das maiores agências de publicidade do mundo, estava em uma teleconferência sobre uma nova campanha da marca Nivea e na proposta para a linha de cuidados masculinos, uma das propagandas incluía um casal gay – apenas tocando as mãos. Como feedback, um executivo da empresa teria dito durante esta reunião: “Nós não trabalhamos com gays na Nivea”. Por conta do comentário homofóbico (que desrespeitou, inclusive, os funcionários gays presentes na reunião) a agência encerrou seu contrato com a marca. (fonte)
Cinemark
Lembra da Prop 8? Era uma emenda que seria feita na California para voltar atrás e proibir casamentos gays por lá. Seria a primeira vez que iam alterar leis para tirar direitos de alguém! As campanhas contra e a favor dela foram enormes na época (2008) e Alan Stock, CEO da empresa, doou um bom dinheirinho para a campanha pelo “sim”, ou seja, contra os gays. Apesar da pressão da mídia e da ameaça de boicote, o Cinemark não se pronunciou sobre isso, justificando que “não seria apropriado que a empresa tentasse influenciar seus funcionários sobre questões fora do ambiente de trabalho” (link). O que mais me irrita na questão do Cinemark é a hipocrisia de ter esse posicionamento mas não ter problema nenhum em encher o bolso de dinheiro exibindo “Milk”, “Brockeback Mountain” e vários outros filmes que pregam a tolerância ou falam de preconceito.
Centauro
O mineiro Sebastião Bomfim Filho, dono da rede de artigos esportivos – uma das maiores varejistas do Brasil – disse, de dentro de seu apartamento no bairro Jardins, que acha melhor seus amigos de golfe já irem se acostumando: “Em outubro, vou de Bolsonaro. Está decidido”, afirmou, sobre seu voto nas próximas eleições ir para um candidato racista, misógino, homofóbico e machista (fonte). Depois que o governo Bolsonaro começou a dar muito mais errado do que era previsto, os empresários começaram a pular fora do barco (fonte), mas já era tarde demais. Além disso, Sebastião faz parte do grupo de WhatsApp investigado no inquérito das fake news (fonte). Lembrando que Bomfim também é dono da By Tennis e tem as licenças das lojas da Nike no Brasil (fonte).
Domino’s
O fundador da pizzaria, Tom Monaghan, contribui financeiramente para organizações que se opõem aos direitos LGBT. O presidente do conselho da empresa, David Brandon, também é pessoalmente contra casamento gay. E o CEO atual, Patrick Doyle, faz doações financeiras regulares para causas de direita e republicanas, tradicionalmente anti-gays (link). Aqui é mais a posição pessoal dos caras do que política da empresa, mas eu não quero meu dinheiro indo pra essa galera.
Smart Fit
Edgard Corona, dono das academias Smart Fit, é um dos alvos da operação da Polícia Federal no inquérito das fake news comandadas pelo grupo de empresários “Brasil 200”. O grupo foi criado por Flávio Rocha, dono da Riachuelo, para combater a PEC 45, um projeto de reforma tributária. Também fazem parte do grupo os donos da Havan e da Centauro. O episódio que levou o grupo de WhatsApp desses empresário à investigação, foi uma mensagem de Corona dizendo aos outros membros que precisava de dinheiro para investir em marketing e impulsionar vídeos de ataque a Rodrigo Maia, com informações falsas (fonte). A notícia de que o dono da rede de academias financiava fake news, fez muitos alunos cancelaram suas matrículas (fonte). Isso tudo além, claro, da famosa aula de PUMP NAZISTA (aqui).
Madero
O empresário Junior Durski, dono da rede de hamburguerias Madero, publicou vídeo defendendo o presidente Jair Bolsonaro, notoriamente contra LGBT+, minorias raciais e mulheres. “Estou 100% com ele. Tenho muito orgulho de ter votado nele. Bolsonaro está fazendo tudo certo, está mostrando a que veio, com muita força e determinação”. Ele afirmou que já foi às ruas para defender o presidente, que irá de novo, e convocou seus seguidores a participarem de manifestações contra o Congresso. Durski é sócio do apresentador Luciano Huck. [fonte]
Exército da Salvação (The Salvation Army)
Por trás dessa organização sem fins lucrativos existe, na verdade, uma igreja evangélica (link). E, por isso, ela se acha “isenta da discussão”, já que lhes é permitido que preguem o fim dos LGBT+ e que eles podem se curar etc. A organização foi uma das protegidas do governo Bush e, segundo funcionários, apesar de não discriminar pessoas na hora de fazer suas doações, ela é bem taxativa na hora de fazer contratações: funcionários gays não têm lugar.
Sérgio K
A marca de roupas criou estampas para a Copa do Mundo de 2014 indicando que certos jogadores famosos eram gays (link). Apesar desse tipo de xingamento ser comum no futebol, não podemos aceitar nunca que passem isso pra frente. É ofensivo: ser gay não torna ninguém menos capaz ou inferior. Além disso, a marca criou blusas para a campanha de Aécio Neves (link), candidato de direita que prometeu nas redes sociais “acompanhar com neutralidade as discussões sobre criminalização da homofobia” (ou seja, prometeu fazer NADA) e que tinha Malafaia e Bolsonaro apoiando sua candidatura. E qualquer um que tá junto desses dois está contra você.
Lojas Havan
Outra marca notavelmente a favor do Bolsonaro. Mas a situação fica pior: o dono da rede, Luciano Hang, resolveu constranger seus empregados, os obrigando a usar uma camiseta de seu candidato e a ficarem pelo menos 22 minutos o ouvindo falar sobre seu voto. No meio de seu discurso, pareceu ainda coagir os funcionários a votar em Jair Bolsonaro em troca da permanência no emprego. “Você está preparado para sair da Havan? Você que sonha em ser líder, gerente, e crescer com a Havan, você já imaginou que tudo isso pode acabar no dia 7 de outubro?”, disse ele para a plateia, bem pouco entusiasmada. Além disso, Luciano faz parte do grupo de WhatsApp “Brasil 200”, investigado pela Polícia Federal por financiar a propagação de fake news contra adversários do governo Bolsonaro. [fonte 1] [fonte 2] [fonte 3] [fonte 4] [fonte 5]
Riachuelo
Apesar de várias coleções com frases e personagens para agradar consumidores LGBT+, as coisas são diferentes do lado de dentro. A empresa, que nunca traz LGBT+ em suas campanhas publicitárias, tem como presidente Flávio Rocha. Ele frequenta a igreja protestante Sara Nossa Terra e, segundo sua esposa, “é uma pessoa que tem muita fé, e a gente segue os princípios voltados para a família e para a Bíblia.” Apesar de negar ser homofóbico, na hora de buscar apoio para a candidatura à presidência, correu para o MBL e gritou para todo lado sua posição contrária à descriminalização do aborto e à promoção de direitos LGBT+, como o casamento homoafetivo. Jair Bolsonaro sinalizou que adoraria tê-lo como vice, mas Rocha diz não ter aceitado por Bolsonaro ter visões “de esquerda sobre a economia”, o que confirma que ele está de acordo com as demais posições do político citado. Além disso, foi Flávio quem criou o grupo de WhatsApp “Brasil 200”, que financiava o disparo de fake news contra adversário do governo Bolsonaro. [link] [link 2] [link 3]
Victor Vicenzza
O designer Victor Vicenzza, dono da marca de sapatos do mesmo nome, passou a seguir e curtir publicações de Jair Bolsonaro (PSL) em sua conta no Instagram. O caso repercutiu na internet e, inclusive, motivou a cantora Pabllo Vittar a romper relações com a grife: “Deixo meu agradecimento de apoio até agora, mas não poderia aliar meu trabalho a um discurso que deixa claro não se importar com os diretos humanos de toda comunidade LGBTQIA+, da qual faço parte”, escreveu. De frente à polêmica, a marca emitiu um comunicado reiterando o apoio político de seu dono ao candidato, abertamente homofóbico, racista e misógino – o que mostra que a empresa quer nosso dinheiro, mas não nossa integridade física, já que apoia um candidato que quer, literalmente, nos matar. (link)
Coco Bambu
A rede de restaurantes, especializada em frutos do mar, tem como sócios Eugênio Veras Vieira e Afrânio Barreira Filho. De acordo com informações disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os caras doaram R$40 mil para a campanha do candidato à presidência Jair Bolsonaro. Se você é LGBT+, mulher ou negro, sugiro comer seus frutos do mar em um restaurante que não apoie um candidato que te trata como lixo. (fonte) Mesmo depois de comprovar e assistir a péssima gestão de Bolsonaro, o restaurante manteve seu apoio: no dia que o Brasil chegou ao marco de 100 mil mortos por Covid, o restaurante homenageou o presidente machista, homofóbico e fascista com um jantar na Alvorada (fonte).
Supermercado Hirota
No último ano, o mercado distribuiu uma cartilha que condena a união entre pessoas do mesmo sexo e diz que gays são “distorções da criação”. “O casamento homoafetivo está na contramão do propósito divido e não pode cumprir o seu propósito. A relação conjugal entre homem e homem e mulher e mulher é antinatural, é um erro, uma paixão infame, uma distorção da criação”, dizia parte do texto. O material, que também trazia mensagens sobre vários outros assuntos, foi escrito pelo pastor Hernandes Dias Lopes, da Igreja Presbiteriana, que o vendeu ao mercado, que decidiu pagar pela tiragem de 10 mil exemplares. Em comunicado oficial, após a polêmica nas redes, protestos nas lojas e ameaças de boicote, o Hirota disse não ter intenção de ofender ou discriminar qualquer forma de amor. Sei. [fonte]
Supermercados Condor
Outro caso parecido com o da Havan: foi divulgado um vídeo em que seu presidente, Pedro Joanir Zonta, declara apoio a Jair Bolsonaro como candidato à presidência e pede que seus funcionários “confiem em mim e nele para colocar o Brasil no rumo certo”. Para a procuradora regional eleitoral responsável pelo caso, há uma “clara ofensiva ao direito de escolha desses empregados”. O funcionário pode ficar com medo de perder o emprego ou sofrer retaliações caso não siga a orientação do empregador. Tem vários outros mercados pra gente ir, galera. [fonte]
PanVel Farmácias
Julio Mottin Neto, CEO da rede de farmácias Panvel, do Grupo Dimed, foi comemorar no Twitter a decisão de Jean Wyllys deixar o país devido às sérias e constantes ameaças de morte que vem recebendo. Ele tweetou citando o político nominalmente, dizendo que ele não fará falta por aqui. Quando você representa uma empresa, você fala por ela. E não acho que seja motivo para comemoração um deputado eleito democraticamente, o único até então abertamente LGBT+, deixar seu cargo com medo de morrer. O caso foi polêmico e fez Mottin até deletar sua conta no Twitter – mas a gente viu, fez print e não vai comprar mais nada lá. [fonte] [fonte] [fonte]
Festival Coachella
Nossa, muito legal o showzinho da Beyoncé – e de outros artistas feministas e LGBT+ no festival -, mas o dono do evento é Philip Anschutz, um bilionário de 78 anos que investe boa parte do seu dinheiro em políticas conservadoras. Depois de virem a público suas doações para organizações como Alliance Defending Freedom e Family Research Council, amplamente divulgadas por serem anti-LGBT+, Anschutz disse que seu objetivo nunca foi apoiar a desigualdade. Mas, só em 2017, receberam dinheiro do dono do Coachella pessoas como Cory Gardner, senador do Colorado que defende o porte de armas, e Scott Tipton, congressista do Colorado que é contra aborto e casamentos entre pessoas do mesmo sexo; entre outros. [link]
Qualquer coisa russa
Putin, presidente do país, assinou um projeto de lei anti-gay, classificando “propaganda homossexual” como pornografia. A lei é ampla e vaga, de modo que qualquer professor que diz aos alunos que a homossexualidade não é errado pode ser preso. Mais de 70 pessoas foram presas por lá indo para um show da Madonna! Aliás, quando ela se pronunciou contra essa lei no palco, saiu do país com uma multa de 1 milhão de dólares nas costas. Nem mesmo um juiz, advogado ou legislador podem discutir publicamente sobre tolerância sem ameaça de punição. Como resposta, várias pessoas tem estimulado boicote a q-u-a-l-q-u-e-r produto importado da Rússia. (link) (link)
Sabe de alguma outra empresa que não tem sido muito legal com direitos gays? Tem algum link que prove que essas empresas acima mudaram suas políticas? Deixa aí nos comentários.