Eu, (você) e Deus

Comédias românticas são exatamente o contrário do que um filme devia ser: inesperado. O miolo da história sempre é bastante variado, mas desde o começo você sabe que o casal vai ficar junto no final*. E qual é a graça, então? Exatamente esse meio, ver em que apuros essa história de amor vai passar – ou seja, ver que obstáculos os roteiristas pensaram dessa vez e como os personagens vão superá-los.

(*Eu sei, nem todos, tem aquele lá e aquele outro, mas enfim. Vamos focar aqui.)

Basicamente duas coisas me fazem sentar na cadeira pra ver esse tipo de filme:

– Diversidade de elenco: claro que um Ryan Gosling aqui e ali não faz mal, mas pode apostar que as histórias mais originais estão atrás dos atores não tão clichês para o gênero.

– Diversidade de circunstância: se no trailer o casal se conhece no trabalho ou andando na rua quando um bate no outro e deixam papéis cair no chão eu já estou dormindo. Acho que dá pra ser mais criativo que isso, Hollywood.

“Eu & Deus” (2009) tem exatamente essas duas coisas.

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Primeiro que o “mocinho” é Jeff Daniels, um ator pra lá de maduro, com zero sex-appeal (se comparado a esses filmes com Emmas Stones da vida) e um bom ator – afinal, vai de “The Newsroom” e “Boa Noite e Boa Sorte” até “Débi & Lóide 2”. Ele interpreta Arlen Faber, um escritor que está comemorando o aniversário de 20 anos de seu best-seller ficando em casa: ele escreveu um livro espiritual para as massas (digamos assim) chamado “Deus & Eu”, algo no mesmo nível de “O Segredo” e “Comer Rezar Amar”. A publicação lhe deu fama internacional e rios de dinheiro, mas desde seu lançamento ele se tornou recluso, metódico, complicado e cético.

A mocinha, no caso, é Lauren Graham, famosa por “Gilmore Girls” e “Parenthood”, a minha terceira razão para ver esse filme. Ela interpreta Elizabeth, uma quiroprata mãe solteira que faz de tudo pra criar um ambiente protegido e cheio de good vibes: de suco detox até cintos de segurança apertados demais.

E o resto é história. Claro que eles se conhecem, e se gostam, e aí tem um conflito, e aí eles superam. Mas é legal acompanhar. É uma comédia romântica abaixo do nível Woody Allen, mas anos luz acima de uma Adam Sandler. Entende? E por trás da crítica à sociedade viciada na auto-ajuda barata, o filme acaba trazendo alguns conselhos que valem à pena prestar atenção.

Enfim, fica aí minha singela dica. Cliquei nele de bobeira na Netflix esses dias e foi uma agradável surpresa.

PS: O dono da livraria (Lou Taylor Pucci) e o carteiro (Tony Hale, de “Veep”) também são personagens bem interessantes – cada um de um jeito bem diferente.

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